A taxa básica de juro da economia nacional poderá cair, nesta quarta-feira (6), ao menor nível desde 1986, quando tiveram início os registros oficiais do Banco Central (BC). Para a expectativa do mercado financeiro se confirmar, o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá cortar a Selic em 0,5 ponto percentual. A décima redução consecutiva levaria o juro básico de 7,5% para a mínima de 7% ao ano.
O anúncio da decisão é aguardado para o fim da tarde. Até o momento, o nível mais baixo da Selic foi de 7,25%, registrado entre outubro de 2012 e abril de 2013. Depois, houve uma série de reajustes, que a levaram a 14,25% em julho de 2015.
Os cortes no juro básico só foram retomados em outubro do ano passado (veja no gráfico abaixo). O atual ciclo de reduções, explicam analistas, está conectado à baixa na inflação, medida oficialmente pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
— Não há espaço para surpresas na reunião do Copom. O IPCA vem caindo, e a atividade econômica, apesar de fraca, está reagindo. Por isso, o corte de 0,5 ponto percentual deverá ser confirmado — declara Valter Bianchi Filho, sócio-diretor da Fundamenta Investimentos.
A previsão do mercado financeiro é de que o IPCA feche 2017 em 3,03%, conforme o BC. Ou seja, pouco acima do piso da meta de inflação — a marca de referência perseguida pela instituição é de 4,5%, mas pode variar entre 3% e 6%.
— Em sua última reunião, em outubro, o Copom cortou a Selic em 0,75 ponto percentual e sinalizou que diminuiria o nível da redução seguinte. De lá para cá, nada parece ter saído do script — menciona o economista-chefe da gestora Quantitas, Ivo Chermont.
O corte no juro básico é visto como instrumento de auxílio à retomada econômica. Ao reduzir a Selic, o Copom busca baratear o acesso ao crédito, incentivar a produção industrial e alavancar o consumo das famílias.
— O objetivo dos cortes é tentar estimular a atividade econômica depois de uma forte recessão como a que atingiu o país. O juro mais baixo tende a melhorar as condições de consumo da população e investimentos de empresas — frisa o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria.
No sentido contrário, o corte na Selic não traz animação para quem mantém aplicações financeiras como poupança e Certificados de Depósito Bancário (CDBs). Como a taxa serve de referência para investimentos pessoais, a projeção é de que os rendimentos também recuem. Apesar de previstos, os efeitos da poda no juro básico não são sentidos imediatamente pela população, sublinha Chermont:
— Em política monetária, há uma defasagem de tempo. O novo corte só terá efeito, de fato, lá pelo terceiro trimestre de 2018, e não já na quinta-feira (7). Os reflexos das reduções iniciadas no ano passado começam a ser sentidos agora. A retomada da economia deriva, em parte, de política monetária mais frouxa. O que a população pode esperar é a continuidade dessa reação.
A reunião desta semana é a última do Copom em 2017. Para o próximo ano, estão previstos oito encontros. O primeiro está marcado para fevereiro.
EFEITOS NA ECONOMIA
Impactos previstos da redução no juro básico, referência para taxas cobradas pelos bancos
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para controle da inflação. Quando o comitê a reajusta para cima, tenta conter o excesso de demanda que pressiona os preços, porque o juro mais alto encarece o crédito e serve de estímulo à poupança. Como a inflação está em baixa, o Copom segue com a poda na Selic para tentar incentivar o consumo dos brasileiros e a produção nas empresas, ações necessárias para a retomada da economia.
Empresas
Especialistas comentam que o esperado corte no juro pode incentivar a reação de empresas que buscam crédito mais barato para investir. Consequentemente, a alta na produção das companhias pode levar a novas contratações e aliviar o quadro de desemprego no país.
Consumo
Ao reduzir a Selic, o Copom também busca alavancar o consumo no país. Com taxas de juro menores nos bancos, a tendência é de redução no custo do crédito para compra de bens pela população. Entre julho e setembro deste ano, o consumo das famílias avançou 1,2% em relação aos três meses imediatamente anteriores, a terceira alta seguida nessa base de comparação.
Aplicações financeiras
Como a Selic serve de referência no sistema bancário, a previsão é de que os rendimentos de investimentos pessoais, como poupança e Certificados de Depósito Bancário (CDBs), recuem por conta do possível corte no juro básico. Com isso, pode haver procura por aplicações com maior retorno e riscos mais elevados, como ações de empresas na bolsa de valores. Nesses casos, a recomendação de especialistas é ter cautela devido a incertezas envolvidas nas operações.