Depois de engatar a marcha a ré nos últimos três anos, com queda acumulada de 51,8%, a venda de automóveis de passeio e comerciais leves no Rio Grande do Sul dá sinais de que pode ter deixado a pior fase da crise no retrovisor. Em agosto, 11.760 novos carros foram emplacados no Estado, alta de 10,9% em relação a julho e de 15,4% ante igual período de 2016. É o melhor resultado mensal deste ano, apontam dados do Sincodiv/Fenabrave-RS, que representa concessionárias e distribuidoras.
Presidente da entidade, Fernando Esbroglio avalia que incertezas políticas vindas de Brasília ainda atingem o ânimo do mercado gaúcho. Apesar disso, considera que o resultado de agosto sinaliza que o setor tem potencial para acelerar nos próximos meses. Em 2017, as vendas acumulam leve alta de 2,7% em relação ao ano anterior.
– Penso que o pior momento ficou para trás, mas ainda não há certeza de recuperação mais consistente – pondera.
O economista Raphael Galante, da consultoria automotiva Oikonomia, afirma que um dos fatores que podem aditivar o mercado é o maior acesso ao crédito. No mês passado, a venda financiada de automóveis leves no Estado somou 25.176 unidades, entre novas e usadas. O número corresponde à alta de 13,6% em relação a igual mês de 2016, aponta pesquisa da B3, resultante da fusão da BM&FBovespa com a Cetip, que costuma fazer esse tipo de estudo.
– Os efeitos do ciclo de cortes no juro básico (iniciado em outubro de 2016) demoram para chegar ao consumidor. Começam a ser sentidos agora – acrescenta Galante.
Motorista de aplicativos de transporte individual de passageiros, Baiard Marques Silva, 42 anos, aproveitou o momento para ir às compras em Porto Alegre. Em julho e setembro, adquiriu dois carros, cujos preços variam entre R$ 56 mil e R$ 66 mil. Os veículos, conta Silva, já foram locados para outros motoristas de aplicativos.
– Acabei de fechar os contratos. Comprei os carros por causa do crescimento dos aplicativos – comenta Silva.
Em números gerais, além de carros de passeio e comerciais leves, os negócios fechados nas concessionárias também contemplam caminhões, ônibus e motos. Em agosto, levando-se em consideração todas as categorias, as lojas gaúchas venderam 15.008 unidades, aumento de 10,1% na comparação com julho. Conforme o Sincodiv/Fenabrave-RS, esse foi o segundo avanço mensal consecutivo.
Em relação a igual mês de 2016, também houve alta, que chegou a 11,5%. Já no acumulado do ano, o setor segue patinando, com leve recuo de 0,6%.
– O mercado ainda apresenta volatilidade, mas tende a crescer – sublinha Esbroglio.
A entidade prevê que o setor encerre 2017 com crescimento de 2% nas vendas totais. Um dos motivos que sustentam a estimativa é que as concessionárias costumam reforçar o faturamento no quarto trimestre.
Para o diretor do Centro de Estudos Automotivos (CEA), Antônio Jorge Martins, um avanço mais robusto depende de ao menos dois aspectos: redução nas incertezas políticas do país e baixa no nível de endividamento das famílias:
– São os dois fatores principais. O mercado tem demanda reprimida – salienta o especialista.
“Setor está melhor, prestes a sair da UTI”, avalia executivo
Apesar da existência de pontos de interrogação que ainda rondam as concessionárias, executivos confirmam que, mesmo em velocidade baixa, os negócios vêm apresentando avanços nos últimos meses.
Diretor do Grupo Iesa, que vende seis marcas de veículos, Ambrósio Pesce Neto diz que sinais de reação no mercado foram sentidos, com maior força, a partir do fim do segundo semestre. O primeiro segmento a esboçar retomada, conta o diretor, é o de carros na faixa de R$ 30 mil a 60 mil.
Conforme Pesce Neto, a melhora resulta da combinação de fatores como queda na inflação, cortes no juro e leve recuo no desemprego. Sem especificar números, declara que a empresa fechará este ano novamente no azul, com vendas inclusive “acima das esperadas”.
– O setor está melhor, prestes a sair da UTI, sem ajuda de aparelhos para respiração – compara o diretor do Grupo Iesa.
Diretor-superintendente da Ribeiro Jung, concessionária da Ford, José Aurélio Junior afirma que o avanço na confiança dos consumidores vem puxando melhores vendas em relação ao ano passado. Para o executivo, as concessionárias ultrapassaram o fundo do poço, mas devem retomar só a partir de 2020 os níveis anteriores à recessão.
– Parece haver novo ciclo de alta. Estamos operando no azul. Temos grandes expectativas para o segundo semestre – completa.
Gerente operacional do Grupo Sponchiado, que trabalha com a marca Chevrolet, José Luiz Moreira avalia que os sinais de retomada são reflexos da “reposição obrigatória” na frota de veículos. A recessão, diz Moreira, fez com que parte dos motoristas demorasse mais para trocar de automóvel. Mesmo com as incertezas que permanecem no cenário econômico, a empresa projeta manter, até dezembro, o avanço de 34% no faturamento registrado entre janeiro e agosto.
– Mais veículos deveriam ter sido trocados logo depois de 2013, quando o setor estava no auge. Com a crise econômica, essas mudanças ficaram represadas. Ainda não há reação consolidada no mercado. É uma melhora sensível – frisa.