Se confirmadas as previsões, o Comitê de Política Monetária (Copom), grupo do Banco Central responsável por arquitetar a política econômica brasileira, cortará, na próxima quarta-feira (6), pelo menos 0,75 ponto porcentual da Selic, a taxa de juro básica da economia, hoje em 9,25%. A redução é suficiente para tornar a poupança um investimento menos atrativo ao investidor.
Caso confirmada a queda na Selic, será acionado o gatilho que modifica a regra de remuneração da caderneta de poupança, que rende menos sempre que a Selic for igual ou inferior a 8,5% – com a mudança do Copom nesta semana, a taxa ficaria exatamente em 8,5%.
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Na prática, a caderneta de poupança, que hoje tem valorização de 0,5% ao mês, mais a Taxa Referencial (TR), passará a render 70% da Selic, mais a TR. Como resultado, o desempenho da poupança trará resultados inferiores aos verificados atualmente.
Entretanto, isso não significa que as demais aplicações de renda fixa, como Tesouro Direto, Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e similares, tornem-se mais atraentes.
Apesar da mudança, especialistas ressaltam que, antes de tomar uma decisão, o investidor precisa comparar a rentabilidade em cada um dos casos. Essa é opinião, por exemplo, do professor Joelson Sampaio, da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), de São Paulo.
– A taxa de administração é que vai determinar se o investimento vai ficar ruim ou não – diz.
Sampaio explica que, com a incidência de Imposto de Renda (IR) e a taxa de administração, o investidor pode receber menos em produtos de renda fixa do que se deixasse na poupança, mesmo ela rendendo 70% da Selic mais a TR. O professor diz que, em um cenário de juro de 8,5%, apenas os fundos de renda fixa com taxas administrativas de 0,5% ganhariam da poupança
Diante desse cenário, a mudança da Selic provocada pelo Copom tende a baixar as taxas de administração desses investimentos para que se tornem mais competitivos diante da redução da taxa de juro, acredita Angela Nunes, planejadora financeira pela Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar).
No caso do Certificado de Depósito Bancário (CDB), o professor de finanças Alan Ghani, da Saint Paul Escola de Negócios, de São Paulo, aconselha olhar para os prazos para saber se a incidência de Imposto de Renda não irá comprometer muito da rentabilidade.
Ele explica que, para um prazo de seis meses, a poupança ganha do CDB, que paga até 90% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), balizado pela Selic. Para quem investe durante um prazo entre um e dois anos, o ideal é recorrer ao CDB que pague mais de 85% do CDI.
Já para o investidor que pretende deixar o dinheiro rendendo mais de dois anos, vale a pena um CDB que pague mais de 83% do CDI. Caso contrário, melhor deixar na poupança.
Por mais que a caderneta possa ser mais atrativa em muitos casos, Angela Nunes alerta que não adianta sacar o dinheiro fora do aniversário da poupança, senão há perda de rentabilidade. Ou seja, se fizer uma aplicação dia 5 de abril e outra dia 15 de abril, a primeira terá rendimento no próximo dia 5 enquanto a segunda no próximo dia 15. Aplicações menores do que 30 dias também não recebem retorno algum.
Entretanto, Angela pondera que a poupança é um bom instrumento para aprender a poupar, principalmente pela facilidade.
– Algum esforço é melhor do que esforço nenhum – avalia.
Mas Joelson Sampaio, da Fecap, lembra que o dinheiro também não pode ser esquecido na poupança. Caso o juro volte a subir, a aplicação se torna um mau investimento se comparada aos fundos de renda fixa.
Isso ocorre porque, se a Selic estiver alta, os retornos nesses investimentos serão maiores, enquanto que a poupança volta a pagar pela modalidade anterior, ou seja, 0,5% por mês mais a TR.
Alteração na regra começou em 2012
A regra da poupança mudou em maio de 2012, quando os juros da economia estavam em 9% e o governo de Dilma Rousseff tinha a intenção de baixá-los ainda mais.
Na época, sem as alterações na poupança, a queda poderia comprometer a emissão de títulos públicos pelo Tesouro Nacional, que são usados como empréstimos para o governo, além de outros investimentos em renda fixa.
Para não prejudicar as pessoas que já tinham dinheiro investido na poupança, foram criadas as divisões "velha" e "nova" poupança.
O rendimento referente aos valores depositados até 3 de maio de 2012 foram incorporados ao saldo da "poupança antiga" e passaram a render segundo as regras antigas.
Mesmo com a possível queda da taxa básica de juro na próxima quarta-feira, a rentabilidade da "antiga" não sofrerá alteração. Já os depósitos feitos depois de 3 de maio de 2012 fazem parte da poupança "nova" e passam a render menos.
Para quem tem dinheiro nas duas modalidades, os saques passaram a ser feitos prioritariamente do "dinheiro novo" e o banco passou a identificar no extrato os saldos referente às poupanças "velha" e "nova".