Comparar opções de previdência privada, simular valores e questionar gerentes de banco sobre as condições dos planos pode fazer toda diferença entre uma aposentadoria de bonança ou de aperto. Embora p ossam parecer semelhantes – produtos que devolvem a soma das economias, com correção, ao final do período de contribuição –, os detalhes nos contratos e as escolhas feitas pelo poupador são cruciais.
– Os planos cobram taxas de administração, e quando são muito altas, corroem fatia importante do valor guardado – alerta o consultor financeiro Adriano Severo.
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O calculo é simples: se um plano cobra taxa de administração de 3%, e em um ano o rendimento bruto fica em 6%, metade ficará nas mãos do banco. Algumas instituições cobram taxa de carregamento (uma leve mordida sobre cada depósito ou saque), o que deixa a conta ainda mais cara. Mas as tarifas nem sempre moram nas nuvens.
– As taxas costumam cair conforme cresce o valor guardado. Quem começa aplicando um valor mais alto ou faz o patrimônio subir rapidamente com os aportes mensais encontra taxas mais amigáveis – explica o professor do curso de Finanças e Banking da PUCRS Edgar Abreu.
Escolhido o plano, será hora de definir sua roupagem: optar ou não pela modalidade com abatimento do Imposto de Renda? Escolher regime progressivo ou regressivo? E se a empresa na qual se trabalha oferecer um plano próprio de previdência, vale a pena aderir?
– O que pesa a favor dos planos de previdência são os benefícios tributários. É preciso formatar o plano de maneira que essas regras trabalhem a favor do poupador – afirma André Bona, consultor financeiro e autor do Blog de Valor.
Muita gente se pergunta, ainda, qual a melhor hora para começar a economizar, e quanto guardar a cada mês. Vale a pena começar a poupar faltando poucos anos para a aposentadoria? E quem nunca guardou dinheiro nem para emergência, pode se julgar pronto para a previdência privada?
– Embora não haja restrição ao saque antecipado, desde que se respeite a carência de 60 dias do início do plano, quem toma essa decisão pode acabar perdendo os benefícios tributários – lembra Fábio Augusto Souza, superintendente da empresa de seguros e previdência Mongeral Aegon em Porto Alegre.
A previdência privada é o caminho mais curto para se preparar para a aposentadoria sem depender do INSS, mas não o único. Criar a disciplina de guardar, mês a mês, uma quantia pode multiplicar rapidamente as economias, em razão de rendimentos nos títulos do Tesouro ou CDBs, por exemplo. Mas também traz desafios: evitar de falhar a poupança em alguns meses, reajustar por conta própria os valores e – muito importante – resistir ao impulso de sacar o valor antes da hora.
O QUE PESA A FAVOR DA PREVIDÊNCIA PRIVADA
Vantagem fiscal - Quem escolhe pelo regime regressivo de tributação (cuja alíquota diminui com o passar do tempo) poderá pagar apenas 10% de Imposto de Renda se sacar o dinheiro após 10 anos, a taxa mais baixa para aplicações financeiras no Brasil (em aplicações da renda fixa, por exemplo, a menor alíquota é de 15%). Para quem faz declaração completa, a vantagem é ainda maior, pois é possível abater as contribuições.
Conveniência - Os planos de previdência privada ajudam a organizar os depósitos mensais com o envio de boleto ou débito em conta, por exemplo. Com isso, a tendência é de que se mantenha a rotina dos pagamentos e o valor dos depósitos – a cada 12 meses, a parcela é atualizada pela inflação. Também não é tão simples sacar da previdência quanto é tirar as reservas da poupança.
Fiscalização - Os planos de previdência abertos (que não são limitados a um grupo de funcionários de uma mesma empresa) são supervisionados pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), que é um órgão considerado bastante atuante nesta fiscalização. A Susep verifica, por exemplo, se os bancos e as gestoras cumprem a obrigação de dispor da quantidade de dinheiro suficiente para dar conta a todas aposentadorias programadas para os anos seguintes.
Sucessão - Os valores investidos na previdência não entram no inventário em caso de falecimento do titular (ou seja, sem a burocracia da transferência de herança e sem custos advocatícios). Os beneficiários são escolhidos pelo poupador na adesão ao plano, e podem ser alterados ao longo do tempo.
O QUE PESA CONTRA A PREVIDÊNCIA PRIVADA
Taxas salgadas - As taxas de administração dos fundos nos quais é investido o dinheiro da previdência privada costumam ser altas, em especial para quem tem valor baixo aplicado. Em alguns casos podem chegar a 3%, o que significa que o fundo precisaria render 9% em um ano para que as economias do poupador crescessem 6%. Se a instituição cobrar taxa de carregamento, o custo fica ainda mais alto.
Rentabilidade - O rendimento líquido (descontados impostos e taxas) dos planos de previdência costuma ser inferior ao de outras opções de aplicações de renda fixa de baixo risco, como algumas opções de Letras de Crédito (LCI e LCA), CDBs e Títulos do Tesouro, em particular para quem tem altos valores a investir (acima de R$ 80 mil), e encontra bons juros no mercado financeiro.
Mecanismos de proteção - A previdência privada não é contemplada pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que cobre aplicações de até R$ 250 mil por pessoa caso o banco quebre. Embora as contas dos fundos fiquem separadas do patrimônio do banco ou da seguradora, em caso de falência da instituição, o cliente poderá ter de aguardar um período até que a Justiça defina a situação.
COMO ESCOLHER O PLANO DE PREVIDÊNCIA
Instituição sólida - Pense que a instituição no qual você irá guardar dinheiro deverá estar sólida no futuro, em boas condições financeiras. Portanto, avalie com atenção a reputação e a robustez do banco ou da gestora do plano de previdência desejado, mesmo que tenha de contratar um consultor financeiro para ajudá-lo a decidir.
Avalie as taxas - Em geral, as taxas de administração dos planos de previdência privada no Brasil variam de 0,2% a 3% ao ano sobre o patrimônio do investidor. Procure instituições que cobrem as alíquotas mais baixas, e esteja atento a quais fundos oferecidos seu dinheiro estará aplicado.
Taxa de carregamento - Está praticamente extinta, mas algumas instituições ainda cobram um percentual sobre o valor que é aplicado, reduzindo o total acumulado pelo investidor. Atualmente, é fácil escapar de quem cobra a taxa de carregamento.
FECHADA OU ABERTA?
Previdência aberta - Tem planos oferecidos ao público em geral por bancos e seguradoras, e que podem ser adquiridos por qualquer pessoa física ou jurídica. O banco tem como objetivo obter lucro e fica com uma parte da rentabilidade obtida com a aplicação dos recursos depositados nos fundos.
Previdência fechada - Também conhecida como fundos de pensão, são os planos criados por empresas e voltados exclusivamente aos seus funcionários, fechados a quem não é ligado àquela empresa. É comum que a empresa faça contribuições sobre os aportes de alguns funcionários (a cada R$ 1 guardado, um depósito adicional da companhia de mais R$ 1), multiplicando mais rapidamente a reserva financeira.
Algumas empresas oferecem o benefício da contribuição adicional apenas à fatia mais bem remunerada dos funcionários, para manter seu poder de compra na aposentadoria. Para os demais, a previdência fechada talvez não valha a pena, uma vez que as taxas de administração e saída podem ser mais altas do que as dos planos abertos.
PGBL OU VGBL?
VGBL - O VGBL é a sigla para Vida Gerador de Benefício Livre. Nessa opção, o cliente não conta com benefício fiscal. A tributação de Imposto de Renda (IR) no resgate incide apenas sobre os rendimentos do plano, e não sobre o patrimônio total acumulado. É indicada para quem não declara IR, ou faz a declaração simples, sem a possibilidade de deduzir as contribuições previdenciárias.
PGBL - Para quem faz a declaração completa do IR, o plano de previdência mais indicado é o PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre). Isso porque oferece benefício fiscal, permitindo que o contribuinte deduza até 12% da renda anual bruta em contribuições.
As regras do PGBL não representam isenção total de contribuição, já que o poupador terá de pagar IR quando sacar o valor do plano de previdência, e sobre o patrimônio total acumulado – no entanto, a matemática pesa a favor do PGBL nesses casos, já que a economia que se faz durante o período de contribuição é muito alta.
MAIS DÚVIDAS?
Pode sacar antes da hora? Sim. Os bancos e as gestoras permitem resgates. Mas essa não é a melhor opção, pois pode comprometer a aposentadoria. Além disso, pode trazer alíquotas elevadas de imposto e taxas de carregamento. Deve-se respeitar a carência de 60 dias no início do plano e também entre resgates.
Qual o intervalo entre uma parcela e outra? Geralmente os clientes realizam pagamentos mensais e em determinadas situações, como restituição de imposto de renda, recebimento de férias ou 13º salário e realizam aportes sazonais de outros valores complementares.
O que acontece quando não se paga o boleto em dia? Os recursos continuam rendendo normalmente e podem ser resgatados ou levados para outros planos. Não há cobrança, tampouco inscrição em cadastros negativos de crédito. Tudo o que foi pago até a interrupção segue rendendo.
Quem define o valor? O cliente diz quanto pretende pagar, mas bancos e gestoras costumam ter uma faixa mínima, em torno de R$ 100. Esse valor pode ser corrigido anualmente pela inflação, mantendo o poder de compra.
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OPÇÕES AOS PLANO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA?
CDBs - Aplicações amplamente oferecidas por bancos e empresas de investimentos, remuneram conforme a taxa básica de juro (Selic): quanto mais alta estiver, melhor o CDB tende a pagar. Mas é preciso estar atento, pois quando essa remuneração fica menor do que 90%, cresce o risco de que a aplicação não consiga acompanhar a inflação. Também há restrições para aportes adicionais de valores muito baixos.
Fundos - São atraentes no longo prazo, pois o desconto do Imposto de Renda é regressivo, fica menor ao longo do tempo. Pode-se escolher por fundos com perfil um pouco menos conservador (que aplique um determinado percentual em ações), para tentar arriscar valorização adicional das economias. Investidores sem muito dinheiro para aplicar (menos de R$ 60 mil) não costumam ter taxas de administração abaixo de 1% – ou seja, pagam caro demais pela aplicação.
Tesouro Direto - Ideal para quem pretende guardar no longo prazo, pois os juros oferecidos aumentam conforme a data programada para o resgate. Os papéis que protegem contra os efeitos da inflação são os mais indicados para a aposentadoria dos mais conservadores. As taxas de aplicação e custódia são baixas, o que aumenta a rentabilidade. Mas é uma aplicação um pouco mais trabalhosa, pois é preciso recorrer a uma corretora ou a um banco. Aceita aplicações adicionais a partir de R$ 30.
Poupança - Traz a segurança do Fundo Garantidor de Crédito – que cobre os valores que estiverem aplicados até o limite de R$ 250 mil em caso de falência do banco – e relativa facilidade para movimentar o dinheiro e fazer aportes adicionais. No entanto, pode se revelar uma má escolha para o longo prazo, pois não garante proteção do dinheiro contra a inflação em todos os anos, já que sua remuneração é fixa e pode ficar abaixo do dragão.
SETE REGRAS DO BOM INVESTIDOR
Não saque antes do tempo - Colocar a mão no dinheiro antes da hora representa zerar as economias para a aposentadoria e, muitas vezes, ter de arcar com multas de saída e pagamento de mais Imposto de Renda.
Opte pelo regime regressivo - Uma vez que esteja definido que você só fará uso do dinheiro efetivamente para a aposentadoria, opte pelo regime de tributação regressiva, cujas alíquotas caem com o passar do tempo e chegam a 10% ao final de 10 anos.
Faça aportes adicionais - Além das contribuições ordinárias, fazer aportes adicionais (com restituição do IR, comissão ou bônus de final de ano, por exemplo) ajuda a engordar o saldo, possibilitando um benefício maior lá na frente.
Seja criterioso - Escolha com sabedoria o valor a ser guardado todo mês. Esse valor pode levar em consideração dois fatores: a capacidade financeira da pessoa ou o valor total que pretende acumular em um determinado intervalo de anos.
Comece cedo - Quanto antes se começar a guardar, menor será o gasto mensal com a previdência privada. Economizar pouco, nem que seja 5% do salário, logo no primeiro emprego, conduz a um efeito multiplicador na poupança, com juros rendendo sobre juros, evitando que se tenha de guardar mais quando chegar perto da aposentadoria.
Tenha uma reserva de emergência - A previdência não deve ser sua única poupança. É importante ter uma reserva de emergência para imprevistos (o aconselhado é que corresponda a seis meses de salário), espantando o risco da obrigação de ter de recorrer ao dinheiro da previdência em caso de desemprego ou doença.
Não abandone o INSS - Se você é autônomo, não deixe de pagar o INSS. A previdência pública é garantia de cobertura financeira em caso de acidente do trabalho, doença ou afastamento por licença-maternidade, por exemplo.