Segundo o ex-presidente do Banco Central e estrategista-chefe da gestora Rio Bravo, Gustavo Franco, a governo de Michel Temer errou ao iniciar a reforma fiscal no Brasil pela aprovação da PEC dos gastos públicos. Em vez disso, deveria ter utilizado sua energia para aprovar a reforma da previdência.
– A aposta era de que esse governo tinha mais capacidade de passar emendas, o que realmente não tem – afirmou durante o Congresso Internacional de Mercados Financeiros e de Capitais, organizado pela B3, em Campos do Jordão.
Leia mais
"Estamos vivendo um processo de paralisia", avalia ex-presidente do BC
PMDB nunca foi de reformas ou da economia de mercado, diz Gustavo Franco
Corpo técnico do PSDB está incomodado com permanência no governo
Franco disse que o governo, assim, usou mal seu orçamento e agora está "acabando sua energia e capacidade de aprovar".
– No caso da reforma da Previdência, estaremos fadados a revisitar a cada dois, três anos, assim como teremos que revisitar a reforma trabalhista – destacou.
Previdência
Sem alterações nas atuais regras da Previdência, o cumprimento do teto dos gastos será algo inviável em um curto espaço de tempo, disse o ex-diretor do Banco Central Afonso Bevilaqua:
– Não acho que o governo fará pedaladas para cumprir o teto, estão sendo promovidos esforços – afirmou.
Bevilaqua explicou que o gasto da Previdência corresponde hoje a 45% das despesas primárias do governo e sem nenhuma reforma, ao fim de dez anos, esses mesmo gastos corresponderão a dois terços das mesmas despesas, o que seria "inviável".
Segundo ele, o Brasil não tem mais tempo para postergar os ajustes e deixar a reforma da Previdência para ser tocada no próximo governo é algo "inaceitável". Para o ex-diretor do Banco Central, é exatamente por esse assunto ter sido deixado para os próximos governos que o País enfrenta hoje uma situação fiscal extremamente delicada.
– Se houver relutância na reforma, serão anos muito mais difíceis – disse ele.
Por outro lado, Bevilaqua reconhece que a probabilidade de aprovação da reforma hoje é menor do que no início de maio.
– Mas, mesmo que aprove (a reforma), teremos que passar os próximos dez anos tentando adequar os gastos primários ao teto (de gastos) – salientou.
Uma situação mais grave, disse, pode ajudar a formar consenso político para a necessidade de que é preciso fazer algo.
– O cenário é muito perigoso. Qualquer atraso na reforma é algo a se lamentar – conclui.
Tamanho do Estado
Para Gustavo Franco, com a dificuldade de implementar reformas estruturais no País, para que a meta fiscal possa ser cumprida, será preciso reduzir o tamanho do Estado para conseguir cumprir o teto dos gastos públicos.
– É preciso diminuir o quadro e a remuneração. Tão simples como isso e tão complicado como isso – relativizou.
– O setor público se tornou disfuncional ao crescimento – afirmou.
Segundo ele, para cada caso de sucesso há 30 casos de fracasso.
– É preciso discutir o que é prioritário e é uma escolha difícil – avaliou.