Confirmado nesta quarta-feira (26), o sétimo corte seguido na Selic, a taxa básica de juro da economia brasileira, ocorre no momento em que a inflação perde força no país. Ao rebaixar o índice para 9,25% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) busca baratear o acesso ao crédito e incentivar a produção e o consumo.
– A decisão foi tomada porque a inflação está abaixo da esperada inicialmente, e as expectativas para os próximos anos estão bem ancoradas. Não tem motivos para o juro não cair – frisa o economista-chefe da gestora Quantitas, Ivo Chermont.
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Abaixo, confira quais os possíveis impactos do corte no juro básico, que é referência para as taxas cobradas pelos bancos:
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para o controle da inflação, que teve recuo de 0,23% em junho. Quando a instituição reajusta a taxa para cima, tenta conter o excesso de demanda que pressiona os preços, porque o juro mais alto encarece o crédito e serve de estímulo para a poupança. Como a inflação está em baixa, o Copom seguiu com a poda na Selic para tentar incentivar o consumo dos brasileiros e a produção nas empresas, ações necessárias para a retomada do Produto Interno Bruto (PIB).
Investimentos de empresas
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Julio Mereb comenta que o corte no juro pode incentivar a reação de empresas que buscam crédito mais barato para investir. Consequentemente, a alta na produção das companhias pode levar a novas contratações e aliviar o quadro de desemprego no país. No entanto, Mereb observa que o cenário macroeconômico segue com interrogações, que podem retardar a reação no mercado de trabalho.
– A incerteza continua alta e, naturalmente, limita investimentos – afirma.
Segundo Chermont, a retomada nas empresas tende a ser gradual e heterogênea. Ou seja, novos investimentos devem ter velocidades diferentes de acordo com cada segmento.
Consumo
Além de baratear o financiamento para as companhias, o BC busca alavancar o consumo no país ao cortar a Selic. Com taxas de juro mais baixas nos bancos, a tendência é de que o custo do crédito tomado para a compra de bens pela população também recue.
– Para o consumo das famílias, há certo alívio. As condições financeiras estão ficando menos apertadas nos últimos meses. Os dados de crédito tiveram melhora – salienta Mereb.
Banco do Brasil e Itaú Unibanco repassaram o corte de 1 ponto porcentual para as suas principais linhas de crédito às pessoas físicas e jurídicas. No caso do BB, as novas taxas valem a partir da próxima segunda-feira (31). No Itaú Unibanco, os novos valores passam a valer a partir do dia 1º de agosto. Na segunda-feira (24), o Santander anunciou uma redução nas taxas de juros das principais linhas de crédito à pessoa física.
Aplicações financeiras
Já para quem mantém aplicações financeiras como poupança e Certificados de Depósito Bancário (CDBs), o corte na Selic não traz animação. Como a taxa serve de referência para investimentos pessoais, a previsão é de que os rendimentos também recuem. Com isso, pode haver procura por aplicações com maior retorno, mas com riscos mais elevados, como ações de empresas na bolsa de valores.
– Essa decisão tem de estar de acordo com o perfil de cada investidor. Ir para o risco não significa que ele terá rendimento melhor do que na renda fixa. É uma possibilidade, e não uma garantia – assinala o educador financeiro André Bona.
Conforme o especialista, além de CDBs, aplicações como o título Tesouro Selic e os Fundos DI são os mais afetados pelo corte no juro básico. Por outro lado, investimentos prefixados são alternativas para quem não quer partir para o risco. Essas aplicações, explica Bona, apresentam taxa de remuneração combinada na contratação, que não sofre com eventuais reduções na Selic.
Próximas reuniões do Copom
Conforme a mais recente edição do relatório Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, analistas do mercado financeiro projetam que o juro básico encerre este ano em 8%. Até o fim de 2017, o Copom terá mais três reuniões, agendadas para setembro, outubro e dezembro.