A situação econômica do Brasil hoje é melhor do que um atrás, apesar de o país viver mergulhado em uma crise que alastra incertezas no campo político. A avaliação é da presidente mundial do Santander, Ana Botín, selada com a expressão de que é preciso “ver o copo mais cheio do que vazio”. Segundo a executiva, inflação e juros em queda são indicadores importantes:
– Não estamos alterando planos para o país, a confiança está melhor do que há um ano, e isso é positivo. O que está ocorrendo é mais na parte política do que econômica. A situação macroeconômica é sólida.
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Segundo Ana, a instabilidade com relação ao governo não leva o banco a alterar seus planos para o Brasil e ressalta que o que está ocorrendo é muito importante a médio prazo porque deixa as instituições com maior transparência.
– Estamos investindo e achamos que a parte de confiança de empresas e famílias está um pouco melhor do que há um ano, e isso é muito positivo. Portanto, nossos planos não vão mudar e estamos apostando no Brasil como sempre – disse a presidente mundial ontem durante encontro do Santander com executivos e jornalistas latino-americanos, em Madri.
A expectativa de Ana vem embalada em projeção de crescimento de 0,7% para o Produto Interno Bruto (PIB) do país neste ano – acima das estimativas médias de mercado. Presidente do Santander no Brasil, Sérgio Rial diz que o banco observa recuperação também em aspectos microeconômicos, como o crédito e o varejo.
– A liberação das contas inativas do FGTS trouxe um impacto maior do que projetado para a atividade econômica e que em alguns meses teremos condições de mensurar com maior exatidão – adiantou Rial.
Nem mesmo a JBS afetou a atividade econômica. Segundo Rial, houve uma freada de quatro dias, mas logo superada. Porém, o executivo diz que investimentos maiores ainda estão paralisados, e alerta:
– Se aumentar impostos, conforme for feito, terá impacto negativo para 2018.
Terceiro maior banco privado do Brasil, Ana indicou que a estratégia de crescimento no país por meio de aquisições não está descartada, mas que a prioridade é pelo avanço orgânico. A compra de concorrentes só se justificaria com a observação de “critérios financeiros rígidos”.
– Não precisamos comprar, mas se aparecer uma oportunidade, analisaremos – reforçou Ana.
Para Rial, o esforço do banco para se firmar de forma competitiva no mercado está na melhoria da experiência dos clientes e na entrega de produtos e serviços. Nos planos do Santander, há o reforço da atuação com microcrédito – o banco é líder no segmento privado e o segmento é uma das prioridades de Ana não só no Brasil – e educação financeira.
– Banco não pode deixar cliente no cheque especial, não pode deixar quebrar. O que fazemos? Quando vai entrar, já entramos em contato para propor uma alternativa e evitar o pior – citou Rial.
No cenário global, Ana apontou o protecionismo como principal inimigo do desenvolvimento socioeconômico. Mesmo sem citar nominalmente o americano Donald Trump, disse que governos e pessoas dão muita culpa à globalização por conta das transformações que ocorrem na atualidade. Para a executiva, o que vivenciamos hoje é fruto de mudanças tecnológicas.
– O protecionismo é o grande risco, e o trabalho de todos é evitar que ocorra. Temos de dar oportunidades a nossos clientes para que busquem os mercados. Mostrar que o Uber não vai gerar menos motoristas de taxi, mas mais.
Apesar da perspectiva de dificuldades de integração, Ana diz que, pela primeira vez em muitos anos, todos os países nos quais o banco atua terão crescimento econômico – a menor expectativa é para o Reino Unido, afetado pelo Brexit.
*O jornalista viajou a Madri a convite do banco Santander