O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou nesta terça-feira (11) que "não há evidências" de que a crise política tenha afetado a economia. A declaração foi feita durante evento do Banco do Brasil sobre crédito rural, do qual o presidente Michel Temer também participou.
– Embora haja naturais questionamentos de que a crise política esteja afetando a economia, não há evidências disso. Evidência é o que interessa na economia, são números, são fatos. Muitos insistem em lutar contra os fatos revelados nos dados econômicos – disse Meirelles.
Consultados por Zero Hora, especialistas avaliaram a manifestação do ministro. As análises apontam possíveis impactos em diferentes segmentos da economia causados pela turbulência no governo, cujo último capítulo surgiu a partir da revelação, em maio, da delação da JBS.
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Alexandre Espírito Santo
Economista da consultoria de investimentos Órama
Alexandre Espírito Santo afirma concordar "parcialmente" com a declaração de Meirelles e aponta dois cenários sobre a relação entre economia e crise política. Por um lado, menciona que a turbulência que atinge o governo não respingou com tanta força na bolsa de valores e no dólar. Esse movimento, conforme o economista, "chega até a surpreender".
– No mercado financeiro, parece que a crise política não é tão intensa para afetar a economia. Antes da delação da JBS, o índice Ibovespa (da bolsa de valores) estava em 68 mil pontos, e hoje está em torno de 64 mil. É uma baixa pequena para um barulho tão grande – ressalta.
Por outro lado, sustenta que a turbulência em Brasília pode barrar o ajuste fiscal proposto pelo governo. Ou seja, atravancar as reformas trabalhista e da Previdência.
– Se nosso principal problema é fiscal, com a dívida pública indo para 80% do PIB (Produto Interno Bruto), o que é péssimo, precisaríamos das reformas. Há dificuldade para aprovar a trabalhista. Estão brigando no Senado. E será muito mais difícil passar a da Previdência. Se for aprovada, será um arremedo – pondera.
Rafael Cagnin
Economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi)
Rafael Cagnin também menciona que não houve reação intensa no mercado financeiro à crise política. Afirma ainda que é necessário mais tempo para avaliar possíveis impactos da turbulência no governo sobre indicadores divulgados pelo IBGE, como a produção industrial.
– Uma coisa é clara: não há separação forte entre economia e política. Ambas têm seus canais de comunicação – sublinha.
Apesar de analisar que a indústria atravessa momento de "estancamento" dos efeitos da recessão, Cagnin aponta que a crise em Brasília puxou para baixo os indicadores de expectativas e confiança de empresários do setor.
– Houve deterioração desses índices em junho – frisa.
Antonio Corrêa de Lacerda
Professor do Programa de Estudos Pós-graduados em Economia Política da PUC-SP
Antonio Corrêa de Lacerda contesta a afirmação de Meirelles e observa que "não tem como a crise política não afetar a economia". Embora afirme que o país tenha registrado "alguns" números positivos neste ano, como os da supersafra, comenta que a incerteza em Brasília freou novos investimentos e, consequentemente, a retomada na atividade.
– A política econômica continua recessiva. Há uma série de fatores que a restringem – salienta.
Rogério Mori
Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP)
Para Rogério Mori, o principal impacto negativo da crise política foi o freio nos investimentos em produção e nas contratações de trabalhadores. No entanto, o professor considera que a turbulência teve efeitos menores do que os imaginados inicialmente.
– A sensação é de que a crise não afetou tanto o consumo das famílias. Há um aparente descolamento em relação ao ambiente político. A política econômica continua, com queda no juro e inflação em baixa – destaca.