Se você deixa de manter uma reserva financeira para emergências, aí vão duas notícias que não são boas: a menos pior é que você não está sozinho, já que 65% dos brasileiros não têm sequer R$ 1 guardado na poupança ou outra aplicação. E a má é que isso traz um risco enorme de ter de recorrer a um empréstimo a juro salgado em caso de necessidade.
O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), na última edição do Indicador de Reserva Financeira, divulgado no final de maio, mostraram que apenas 35% dos entrevistados reservam um valor fixo ao mês. A principal justificativa dada entre aqueles que não conseguem poupar é a renda baixa, mencionada por 44% dos entrevistados.
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Entretanto, ganhar menos do que gostaria não deve servir de pretexto para dispensar uma reserva financeira, garantem consultores. Há formas de organizar a renda e poupar, pelo menos, R$ 50 por mês. Parece pouco? Então, veja só: em um ano, o valor economizado mais os rendimentos pode chegar a R$ 655 – suficiente, quem sabe, para pagar a rematrícula do filho na escola ou o IPVA do carro sem ter que tocar no 13º salário.
– Geralmente, quando não sobra dinheiro na conta é porque se está gastando demais em algo que poderia ser cortado – avalia a consultora financeira Camila Bavaresco.
Aplicações
A especialista assegura que, fazendo um pente-fino nos gastos, é grande a chance de se descobrir onde há excessos que poderiam ser eliminados e fazer sobrar dinheiro para investir.
– Quando se começa a formar um reserva financeira, o melhor é guardar logo no início do mês, para não cair na tentação de gastar – sugere.
Quem pretende buscar um rendimento um pouco mais alto do que a caderneta de poupança pode encontrar aplicações que aceitam valores relativamente baixos, afirma Sandra Blanco, consultora da Órama Investimentos.
– Já existem fundos que aceitam uma aplicação inicial na casa de R$ 1 mil, e aplicações adicionais de qualquer valor, dentro das possibilidades do investidor – afirma.
Ela afirma que o ideal para quem vai guardar de pouco em pouco é buscar opções conservadoras, de baixo risco, pois é importante que este dinheiro esteja disponível a qualquer momento. Para ela, é importante manter guardado o equivalente a seis meses de salário, criando uma salvaguarda em caso de desemprego ou o surgimento de gasto imprevisto.
Muitas vezes, quem começa a economizar pouco tende a passar a identificar, no dia a dia, formas de cortar desperdícios e aumentar essa poupança. É a chamada "cultura poupadora" que, depois de assimilada, se torna valiosa aliada ao orçamento.
A farmacêutica Raquel Sindermann seguiu este caminho: há alguns anos, trocou de emprego e aumentou a renda. Então, começou a deixar na poupança R$ 150 todo mês. Também começou a anotar todos seus gastos em um caderninho e a identificar como poderia aumentar sua reserva.
– Passei a usar mais o refeitório da empresa e deixei de gastar tanto em restaurantes. Também reduzi a frequência da ida aos salões, então passou a sobrar mais para preparar para uma emergência ou uma compra maior – explica ela.
Logo, a poupança mensal de Raquel passou para R$ 500, e ela garante: não abre mão de seu bem-estar para guardar dinheiro.
6 passos para iniciar uma reserva com pouco dinheiro
1. Faça uma análise nas suas contas e veja qual despesa você pode reduzir (pacote de TV por assinatura, restaurante, franquia de telefone e até renegociação de um aluguel muito alto) para começar a guardar, pelo menos, 10% do seu salário.
2. Escolha uma aplicação de renda fixa e baixo risco, com liquidez diária (ou seja, que você possa sacar o valor imediatamente caso necessite, sem pagar multa).
3. Guarde sempre no início do mês, tirando o dinheiro da conta corrente e evitando cair na tentação de gastar.
4. Tenha a meta de ir guardando até chegar a um valor equivalente a seis vezes suas despesas fixas mensais.
5. Engorde sua poupança investindo uma fatia de rendas extras (comissões, 13º salário, restituições do Imposto de Renda etc).
6. Uma reserva de emergência não precisa ser sua única aplicação: depois dela, você também pode começar a economizar para fazer grandes compras pagando à vista, sem criar dívidas.
As opções para quem vai aplicar baixos valores
Caderneta de poupança: não exige um valor mínimo nem cobra taxas de administração e Imposto de Renda – ou seja, é uma opção baratíssima ao pequeno investidor –, mas o rendimento costuma ser menor do que outras aplicações. Além disso, quem saca antes do aniversário dos depósitos perde o rendimento do mês.
Quanto chegaria uma aplicação de R$ 600 ao final de 12 meses: R$ 644,65
Títulos do Tesouro Direto: aceita investimentos a partir de R$ 30, com rendimentos superiores aos da caderneta de poupança. É possível programar aplicações mensais. O lado negativo é que o aporte inicial não é tão prático, pois requer que se procure um banco ou corretora para criar o cadastro. Hoje, boa parte das instituições isentam as taxas para intermediar os investimentos no Tesouro.
Quanto chegaria uma aplicação de R$ 600 ao final de 12 meses: R$ 655,59
CDBs: costumam oferecer juros mais altos para quem aplica grandes valores, mas o cliente pode compensar mantendo o dinheiro por mais tempo e pagar menos Imposto de Renda. São aplicações relativamente fáceis de realizar, pelo site do banco ou na agência. Se a remuneração for menor do que 90% da taxa DI, a tendência é de que renda menos que a poupança.
Quanto chegaria uma aplicação de R$ 600 ao final de 12 meses (90% de DI): R$ 645,46
Fundos de Renda Fixa: em geral, exigem uma aplicação inicial um pouco mais alta, mas alguns fundos recebem aportes adicionais de qualquer valor, ideal para fazer depósitos adicionais mais suaves. É preciso estar atento à taxa de administração, que incide diretamente sobre a totalidade do valor: se for acima de 1%, o fundo pode ser considerado caro.
Quanto chegaria uma aplicação de R$ 600 ao final de 12 meses (taxa de administração de 0,5%): R$ 647,30
Fonte: simulações feitas a partir de ferramenta desenvolvida pelo consultor financeiro Samy Dana