O escritório de advocacia Bottini & Tamasauskas, que atua na defesa da JBS e participou das negociações do acordo de leniência, considera que seu cliente está sendo vítima de "retaliação" do governo. "Consideramos que, sim, a empresa vem sendo perseguida porque decidiu colaborar com as autoridades para o esclarecimento de crimes", diz a nota enviada ao jornal O Estado de S. Paulo.
O escritório destaca uma lista de ações de órgãos públicos que ilustrariam seus argumentos. O primeiro deles é que os bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, foram as primeiras instituições financeiras a cortar o crédito para empresas do grupo, bem antes dos privados. No mercado, haveria temor de que os bancos públicos até viessem a complicar uma rolagem da dívida, se fosse necessário. Fontes do setor bancário dizem que é natural que novas linhas de crédito sejam cortadas por todos os bancos, não só os públicos, em empresas que estão passando por um processo de depuração, como é o caso do grupo J&F.
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Muitas incertezas rondam a empresa e a capacidade de pagamento de dívida fica comprometida, na medida em que multas bilionárias vão sendo aplicadas. Além disso, desde quarta-feira (21), vai pesar também o fato de o juiz da Operação Bullish – que investiga as operações entre o grupo e o BNDES – ter proibido a venda de ativos, quando precisam justamente fazer caixa. "Esse dinheiro ia ser usado para pagar dívida", diz um banqueiro.
Nos bancos públicos, as equipes técnicas trabalham com a perspectiva de renovar as linhas de crédito. Fontes próximas ao presidente do Banco do Brasil dizem que não houve qualquer tipo de pressão do governo para que não houvesse renovação do crédito das empresas do grupo J&F e, mesmo que houvesse, seria algo que dificilmente o BB faria pelo prejuízo econômico que isso geraria. Além disso, o banco tem capital aberto e consegue se blindar, de certa forma, de uma ingerência política.
O banco tem uma exposição a empresas da J&F – cerca de R$ 5 bilhões –, boa parte em linhas de crédito de comércio exterior. Nas negociações de renovação de linhas, porém, o custo tem sido alterado. Estão sendo feitas exigências de novas garantias e até mesmo de mudança na gestão da companhia – procedimentos que também têm sido comuns entre bancos privados.
O banco com maior exposição ao grupo é a Caixa, com cerca de R$ 10 bilhões em créditos. Porém, segundo fontes de outras instituições, a equipe técnica da Caixa tem negociado normalmente a renovação de linhas com o grupo. Entre os privados, estima-se que o banco com maior exposição é o Santander, com cerca de R$ 4,5 bilhões. O Bradesco tem R$ 3,2 bilhões e o Itaú, R$ 1,5 bilhão. Os bancos não quiseram comentar.
Bloco
A defesa do grupo J&F, controlador da JBS, também está preocupada com a reação em bloco de outros órgãos públicos. A Petrobras lançou mão de uma cláusula anticorrupção para extinguir o contrato de fornecimento de gás para a Âmbar, outra empresa do grupo, e anunciou a cobrança de uma multa da ordem de R$ 70 milhões.
A CPI da Previdência convocou diretores da JBS para depor sobre as dívidas previdenciárias da companhia. O escritório destacou que o gerente jurídico da área tributária da JBS, Fábio Chilo, foi questionado sobre compra de dólares, empréstimos do BNDES e outros temas além do escopo da CPI e de suas atribuições na empresa. Também lembrou que a mesma Advocacia Geral da União (AGU), que na quarta pediu o bloqueio de bens da empresa, já havia dito que iria processar a JBS e havia solicitado acesso ao acordo de leniência.
Apesar de a insegurança em relação à JBS ter aumentado, a ação da empresa subiu 5,32%, a maior alta da bolsa na quarta-feira. Para profissionais do mercado, teria sido uma reação à notícia, divulgado pelo Estado de S.Paulo, de que já há interessados nos ativos da JBS. Mas seria ainda um movimento natural de recuperação, pois o papel acumula em junho queda de 21,5%, já contabilizado o desempenho de quarta. Os bancos americanos Morgan Stanley, JPMorgan e Citigroup se destacaram como compradores.