O presidente Michel Temer afirmou, durante café da manhã com deputados da base aliada e ministros no Alvorada, nesta terça-feira, para acertar os detalhes da reforma da Previdência, que o governo está "completando um primeiro ciclo de reformas" e que juntos, Executivo e Legislativo, "serão os produtores da reconstrução do país, da reformulação do país".
Sem citar diretamente a Lava-Jato e as delações da Odebrecht, Temer repetiu que é preciso deixar o Judiciário trabalhar e que o momento é de o Executivo e o Legislativo não pararem.
– A resposta que podemos dar ao povo brasileiro é o povo olhar e dizer "vocês já fizeram tanta coisa e agora fizeram mais". Digo isso porque temos duas reformas ainda fundamentais, outras fundamentais que nascerão certa e seguramente ao longo do tempo – afirmou.
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O presidente disse ainda que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem feito um gesto simbolizando um foguete para explicar o que acontecerá com a economia com a aprovação da reforma da Previdência.
– O Meirelles faz um gesto que se a reforma for aprovada, a economia... aí ele faz um foguete para cima. Aliás, o foguete já começou – disse.
Temer fez questão de destacar os indicadores econômicos em sua fala, o IBC-BR de 1,3% em fevereiro, e afirmou que os juros e a inflação estão caindo.
– Convenhamos que nos últimos tempos nós temos tido revelações de como a economia está reagindo – disse, lembrando ainda que a agência de classificação de risco Moody's tirou o país "do negativo e nos passou para o estável". – A inflação que caiu; vou dizer uma obviedade: a Selic que caiu e está reproduzindo os juros – completou.
O presidente, que classificou sua fala como um "monólogo produtivo", disse ainda que o governo só resistiu porque "nós estamos trabalhando juntos no Executivo e Legislativo".
– Nós precisamos, eu enfatizo muito, acho que é um momento histórico do país, sem embargo das dificuldades, nós temos de dar prova de trabalho. E a prova de trabalho virá pela aprovação dessas reformas – reforçou.
Em seu discurso de pouco mais de dez minutos, o presidente Michel Temer disse que "ninguém quer fazer mal para o país" e rebateu a tese de que as mudanças na aposentadoria irão prejudicar os mais pobres.
– Muitas vezes, dizem assim, mas essa reforma da Previdência vai pegar os pobres. Vou usar uma palavra forte: mentira. Mentira, porque 63% do povo brasileiro ganha salário mínimo, portanto, não vai atingir os pobres – disse. – Os que resistem e fazem campanha são os mais poderosos. São aqueles que ganham mais. Temos que dar uma resposta a isso – afirmou.
O discurso do presidente reforça o mote das peças publicitárias que o governo vai estrear nesta terça-feira, comparando "a novidade" da reforma da Previdência a outras medidas como o uso obrigatório do cinto de segurança, vacinas e a privatização da telefonia e até ao Plano Real.
Temer disse que a proposta da reforma da Previdência foi feita pensando em um cenário de 40 anos no país, mas, "sabendo que o diálogo seria indispensável com o Congresso", e que depois de ouvir todas as bancadas e as principais observações o governo aceitou negociar.
– Sendo certo que a reforma tem um núcleo essencial que é o da idade, um pouco mais, um pouco menos, não importa, mas é algo que foi estabelecido em todos os países – afirmou.
O presidente comparou a situação do Brasil a outros países e disse que somente "três ou quatro" não possuem uma idade mínima.
– Essa é a espinha dorsal, o núcleo da reforma da Previdência. O mais pode ser negociado. E foi negociado – disse, sem destacar que o governo aceitou reduzir a idade mínima das mulheres para 62 anos.
Sem recuo
O presidente rechaçou que as flexibilizações no texto da Previdência tenham sido recuo e repetiu que "não se governa apenas com o Executivo" e que essa classificação é resultado de uma cultura autoritária.
– Você governa com Executivo e Legislativo. Mas como você tem no país uma visão autoritária muito grande, a visão cultural do país é muito autoritária. As pessoas acham que se o presidente expedir um ato qualquer, não pode ser contestado. Não pode sequer ser negociado, ser ajustado, equacionado e nem isso é possível porque senão vão dizer que é recuo – afirmou. – Eu combato isso – disse.
Em sua fala, Temer disse ainda ter sentir "muita falta daquele contato buliçoso, agitado que tínhamos na Câmara onde lá eu estava por seis mandatos", fez um agradecimento aos parlamentares e destacou que deve ao Congresso "o sucesso" de muitas medidas desses 11 meses de governo.
– Foram medidas complicadas, convenhamos. Não é fácil você reduzir e colocar teto nos gastos públicos. A tendência de todo e qualquer governante é gastar e gastar cada vez mais. Ou seja, vamos praticar atos populistas que são atos irresponsáveis porque eles têm digamos assim uma vantagem amanhã, mas tem um prejuízo depois de amanhã. Nós nos recusamos a este populismo – afirmou.
A fala de Temer foi disponibilizada pelas redes sociais do Planalto, após a reunião no Alvorada.
*Estadão Conteúdo