Símbolo da pujança econômica que o Brasil viveu anos trás, com prédios sendo construídos em toda parte e aluguéis tão altos quanto os próprios imóveis, o mercado imobiliário ainda luta para vencer a paralisia gerada pela crise. Empresários e especialistas que acompanham o setor apontam 2017 como possível ano da retomada.
Mas o crescimento, mesmo que tímido, não depende apenas da vontade de vendedores e compradores: a taxa de juro para financiamento e, principalmente, o desemprego precisam cair para o setor reagir.
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No início do ano, o número de imóveis residenciais para alugar em Porto Alegre atingiu recorde histórico. Em janeiro, eram 7.145 unidades à disposição de futuros inquilinos. No mês seguinte, houve um pequeno recuo desse estoque (7.093), mas nem de perto o suficiente para atenuar a incrível disparada que a oferta imobiliária para aluguel teve em cinco anos. Quando a comparação é feita com fevereiro de 2012, o salto observado é de 183%.
A "superoferta" é resultado de dois movimentos simultâneos. De um lado, a queda expressiva na procura por locação. Conforme a recessão avançava pelos setores da economia, muitas pessoas procuraram alternativas para conseguir enxugar gastos. Jovens que perderam o trabalho, por exemplo, voltaram a morar na casa dos pais ou optaram por dividir o teto e as contas com amigos.
De outro lado, houve o avanço natural de empreendimentos imobiliários. Quem pôde, aproveitou o aquecimento econômico nos anos passados e transformou a poupança em investimento em imóveis que estavam sendo construídos. São unidades novas que recentemente ficaram disponíveis para o mercado de locação. As construtoras e incorporadoras também enfrentam dificuldades semelhantes.
Salas comerciais também sobram
– Outros segmentos, como a indústria, já começaram a reagir. Quando o dinheiro volta a circular, as coisas deslancham. Não esperamos que voltemos ao cenário que tínhamos em 2010, 2011 (de grande aquecimento), mas é o início de uma recuperação – pondera Leandro Hilbk, vice-presidente de locações do Sindicato das empresas de compra, venda, locação e administração de imóveis (Secovi-RS).
Na última semana, a divulgação de indicadores econômicos confirmaram que a reanimação do mercado imobiliário deve ser lenta. Após 10 trimestres em queda, a indústria de transformação voltou a reagir. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam que a produção tornou a crescer em 2017, com avanço de 0,3% em fevereiro com relação a janeiro, mas o desemprego atingiu a marca nada animadora de 13,5 milhões de pessoas. Ou seja, ainda vai demorar um pouco para que a capacidade de gasto dos consumidores se recupere.
– Os setores são todos encadeados. Em geral, o que se percebe é que a construção e o mercado imobiliário reagem com uma defasagem de seis a oito meses da indústria. Quando aparecem os primeiros sinais de melhora e as expectativas no curto prazo ficam mais otimistas, as pessoas começam a procurar ofertas, cotar imóveis. As vendas não avançam rápido, mas o ânimo muda. É o sinal que construtoras e investidores precisam – explica Pedro de Seixas Corrêa, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e coordenador da pós-graduação em Viabilidade de Empreendimentos e Incorporações Imobiliárias.
A dificuldade em alugar não é exclusividade de imóveis residenciais. Espaços comerciais também encalham à espera de locatários. Nos últimos cinco anos, o número de salas e conjuntos disponíveis teve variação de 172,79%, passando de 1.235 unidades em 2012 para 3.369 unidades em 2017. Espaços para instalação de lojas avançaram 121,73%.
O Centro Histórico é o bairro onde o fenômeno da grande oferta de imóveis para locação é verificado de forma mais evidente. São 631 imóveis residenciais, 841 comerciais e 59 de outro tipo (como box de garagem) disponíveis. A região concentra 11% de todos os locais vagos para serem alugados em Porto Alegre.