Em meio à pressão de compradores externos e à articulação do Planalto para evitar um desgaste maior do setor, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) questionou a forma como as supostas irregularidades na venda de carne brasileira foram divulgadas durante a Operação Carne Fraca. Francisco Turra acredita que houve "generalização" das suspeitas contra as empresas que vendem carne e defendeu a investigação dos frigoríficos envolvidos no esquema fraudulento.
– Ontem (domingo), a presença do diretor-chefe da Polícia Federal, dr. (Leandro) Daiello, e do chefe de imprensa se deu porque eles próprios sentiram a dimensão do problema. Há um compromisso de ajudar a clarificar. E o que é? É dar o nome aos bois, apontar onde (estão as suspeitas). Se, em um universo de 11 mil funcionários, tem 30 que cometeram deslize, o certo é dizer que esses 30 são sem-vergonha – afirmou Turra em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade.
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Turra lembrou que apenas 21 frigoríficos – entre 4.837 unidades de abate animal em operação no país – são suspeitos de irregularidades na venda da carne ao mercado interno, enquanto três plantas que vendem para o mercado externo são investigadas.
– Por que generalizou? Por que todo mundo fez a sua interpretação. Se você não coloca exatamente o ponto, joga o produto todo (sob suspeita).
No domingo, Turra participou de reuniões no Ministério da Agricultura, de manhã, e no Palácio do Planalto, à tarde, com a presença do presidente Michel Temer. Tentando reconquistar a confiança de compradores externos, o governo anunciou que criará uma força-tarefa para investigar as irregularidades em empresas que foram alvo da Operação Carne Fraca. Conforme as apurações da PF, empresários pagavam propina a fiscais agropecuários para que permitissem a venda de produtos adulterados.
O presidente da ABPA reconheceu que o esquema relevado pela PF, na última sexta-feira, é "gravíssimo". Francisco Turra ressaltou que a associação apoia as investigações da Polícia Federal e defendeu a divulgação completa das plantas sob apuração.
– Vi o relatório da PF e acho que ainda não está completo, mas o ministro da Agricultura fez várias revelações e está pedindo laudos. Por exemplo: carne podre existiu em algum lugar? – explicou Turra. – O nome das empresas já está sendo tornado público. Agora, a gente tem que ir atrás desse que é o ponto essencial: onde esteve e que tipo de erro, para o público saber tudo.
Para evitar novas irregularidades, Turra defende o rodízio de fiscais agropecuários e a modificação dos critérios para nomeação das superintendências do Ministério da Agricultura nos Estados.
– Nomeação de apadrinhado político é um desastre. Isso já está visto há 400 anos. – Como um todo, nós temos equipes de honestos que é infinitamente superior aos sem-vergonhas. É uma minoria que existe em tudo – ponderou.