O tiroteio verbal contra a Operação Carne Fraca – que investiga venda de carne adulterada – vem, inclusive, de onde a Polícia Federal menos espera. Em nota divulgada nesta terça-feira, a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) atacou a investigação da PF, declarando que falta lastro para o inquérito demonstrar que ocorreu “dano agudo à saúde pública” nas ações realizadas pelos 21 frigoríficos sob suspeita.
Apesar de reconhecer valor na Operação Carne Fraca, a APCF lamenta que os 27 peritos criminais com formação em Veterinária atuantes na PF não tenham sido utilizados, assim como ocorreu em outras operações.
"A abordagem quase exclusiva de provas contingenciais deu aos responsáveis pelo comando da operação a equivocada impressão de que tudo poderia ser concluído de imediato e sem qualquer dúvida, apenas com aquilo que se chama circunstancial. A atuação adequada dos Peritos Criminais Federais nas demais etapas do procedimento investigatório, e não apenas no seu início e na sua deflagração, teria poupado o país de tão graves prejuízos comerciais e econômicos", critica a nota da associação dos peritos.
A associação, com sede em Brasília, lembra que os 27 veterinários e dezenas de outros especialistas em Química, Farmácia/Bioquímica, Medicina, Agronomia e Biologia foram usados em outras operações bem-sucedidas da PF. São citadas Ouro Branco (sobre fraude em leite, deflagrada em 2007) e a Vaca Atolada (sobre fraude em carnes, desencadeada em 2012), além da famosa Lava Jato, que já conta com mais de mil laudos periciais.
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A entidade ressalta ainda que, no caso da Carne Fraca, apenas um laudo pericial, hábil a avaliar risco à saúde por parte das carnes vendidas pelos frigoríficos, foi concluído durante os trabalhos de investigação. A associação diz que mesmo esse laudo não autoriza a afirmar que houve dano à saúde dos brasileiros e, por isso, considera que ocorreram "eventuais excessos acusatórios", talvez devido à solicitação insuficiente de peritos na investigação da Carne Fraca.
A direção da Polícia Federal ainda não se pronunciou sobre a nota. O diretor da PF explicou, no domingo, ao presidente Michel Temer que, além do laudo em questão, apreensões de carnes e centenas de horas de interceptações telefônicas mostram diálogos que evidenciam maquiagem de carnes deterioradas para a venda.