Carlos Alberto Fonseca dos Santos levou um susto quando viu o tamanho da dívida do cartão de crédito. Os gastos que somavam R$ 900 haviam chegado a R$ 3 mil após 12 meses em razão da incidência de juros – que no cartão de crédito podem chegar a 15% ao mês, uma das mais altas do mundo.
– Minha esposa ficou doente, comecei a ter que gastar mais em remédio e não sobrou dinheiro para pagar o cartão. O problema é que a dívida dispara – reconhece o motorista de ônibus de 53 anos, morador de Viamão.
Preocupado com a aceleração do débito, foi negociar no banco, onde acertou quitação de metade à vista, metade parcelado, sem novos juros.
– Agora fica melhor de pagar – respira.
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O efeito bola de neve do cartão de crédito, responsável por boa parte do endividamento que rouba o sono dos brasileiros, terá um freio a partir de abril, quando passam a valer as mudanças para o crédito rotativo, ativado quando se paga o mínimo da fatura do cartão. Com as mudanças, depois de um mês de cobrança do rotativo, o banco será obrigado a oferecer ao cliente outra modalidade de parcelamento da conta, com juro e prazo definidos _ semelhante ao que Carlos Alberto conseguiu quando buscou negociação com o banco.
– É uma mudança boa para todos. O consumidor sai de uma dívida mais cara para outra mais barata e o banco reduz o risco de inadimplência – analisa Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).
Uma das principais críticas à atual forma de cobrança é que, com os juros nas alturas, mesmo saldos pequenos podem crescer em tal velocidade que se tornem impagáveis. A operadora de telemarketing Letícia Abreu, 29 anos, deixou de pagar a fatura durante três meses e a dívida, que começou em R$ 400 – fruto de compras no supermercado e em lojas de vestuário –,já ronda os R$ 600.
– Quando a gente percebe, a conta já tá lá em cima –, desabafa ela, que tentava regularizar as pendências ontem.
Os bancos informam que, com a mudança, os juros do parcelamento irão variar de 0,99% a 9,99% ao mês. Simulações feitas pela reportagem em ferramenta do Banco Central e revisadas pela Anefac mostram que, pelas regras atuais, uma dívida de R$ 2 mil paga em 18 meses no rotativo somará ao final R$ 5.874,48. Pela nova regra, em um juro de 8% ao mês, chegará a R$ 3.841,20 – uma diferença de quase R$ 2 mil.
– A nova sistemática vai possibilitar uma redução do custo de financiamento, em média, de 46%, ou seja, quase metade do juro atual – diz Miguel.
Entretanto, a mudança de regras não sugere que parcelar a fatura mínima virou bom negócio. O juro do novo parcelamento ainda supera em muito os valores médios de empréstimo pessoal no Brasil, principalmente se comparados ao consignado ou ao empréstimo sob garantia.
Além disso, caso o consumidor decida usar o prazo máximo de parcelamento, esta opção pode se tornar mais cara do que nas regras atuais, caso o rotativo fosse pago em um prazo mais curto. Isso porque, mesmo com a redução dos juros pela metade, a liquidação em prazo longo significa que mais juros serão pagos e mais cara ficará a conta ao final do acerto.
Novas taxas
Qual será o juro mensal do parcelamento após 30 dias de rotativo
- Banco do Brasil: de 1,91% a 9,38%
- Itaú: de 0,99% a 8,90%
- Bradesco: não divulgado
- Santander: de 2,99% a 9,99%
- Banrisul: não divulgado
- Caixa Federal: entre 3,3% e 9,9%
Diferença nas parcelas
Como fica uma dívida de R$ 800, em 6 meses
Taxa anterior do rotativo (15% ao mês): parcela de R$ 211,39.
Total pago: R$ 1.268,34
Pela nova regra (8% ao mês): parcela de R$ 173,05.
Total pago: R$ 1.038,3
Como fica uma dívida de R$ 2 mil, em 18 meses
Taxa anterior do rotativo (15% ao mês): parcela de 326,36.
Total pago: R$ 5.874,48
Pela nova regra (8% ao mês): parcela de R$ 213,40.
Total pago: R$ 3.841,20
Como fica uma dívida de R$ 5 mil, em 24 meses
Taxa anterior do rotativo (15% ao mês): parcela de R$ 777,15.
Total pago: R$ 18.651,60
Pela nova regra (8% ao mês): parcela de R$ 474,89.
Total pago: R$ 11.397,36