A recessão enfrentada pelo país segue deixando marcas profundas no mercado de trabalho, com o crescimento do número de pessoas sem ocupação, maior demora para conseguir recolocação e queda na renda. Dados consolidados de 2016 da Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de Porto Alegre, divulgados nesta quarta-feira pela Fundação de Economia e Estatística (FEE), mostram que, nos últimos dois anos, o contingente de desempregados nos municípios avaliados subiu 78,7%, chegando a 202 mil indivíduos, montante superior à população de Passo Fundo, 12º município com o maior número de habitantes no Estado.
Do final de 2014 a dezembro do ano passado, a taxa de desemprego na Região Metropolitana passou de 5,9% para 10,7%. Com a economia andando para trás, também é cada vez mais lento o retorno ao mercado. Em 2016, o tempo médio despendido em busca de recolocação foi de 35 semanas. Em 2015, foi de 24 e, um ano antes, foram 21 semanas.
– E não conseguimos dizer se, ao final desse período, eles conseguiram trabalho – ressalta Iracema Castelo Branco, economista da FEE.
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A crise afeta também quem consegue emprego. O rendimento médio do assalariado no ano passado ficou em R$ 1.905, queda de 7,3% na comparação com 2015 e o menor valor desde o início da série histórica da pesquisa, em 1993. Para Iracema, é uma informação que aponta para um quadro de precarização do mercado de trabalho na Região Metropolitana.
Outro indicador com forte retração foi o de ocupados. Ao final de 2016, eram 1,686 milhão de pessoas, redução de 83 mil indivíduos em relação a igual período de 2015 e mais intensa desde o início do levantamento. O setor com a maior perda, de 52 mil postos, foi o de serviços, seguido pela indústria, com eliminação de 21 mil postos.
A taxa de desemprego, de 10,7%, poderia ser ainda maior, observa Iracema. A redução de 50 mil pessoas no contingente que forma a população economicamente ativa (PEA) ajudou a segurar as estatísticas. São principalmente jovens que preferiram estudar ou pessoas de idade mais avançada que optaram por apressar a busca pela aposentadoria devido ao receio de mudanças na legislação previdenciária, diz a especialista:
– Se não tivéssemos essa saída de pessoas do mercado de trabalho, a taxa seria maior.
Apesar do avanço ao longo do ano passado, nos últimos meses o desemprego ficou estável. Em novembro, era de 10,8%.
Para 2017, poucas chances de melhora
Apesar da expectativa de que 2017 marque o início de uma lenta retomada da atividade, para o emprego o ano ainda deve ser difícil. O professor de economia do trabalho Giácomo Balbinotto Neto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, lembra que as projeções, por enquanto, apontam para avanço tímido do PIB, entre 0,2% e 0,5%, pouco para reanimar o mercado de trabalho.
– A taxa de desemprego deve se manter ou ficar um pouco maior. Alguma retomada, apenas a partir do segundo semestre de 2018 – diz Balbinotto.
Para o especialista, o investimento deve ser o principal caminho para reanimar a economia. Mas o desequilíbrio das contas públicas impede que isso aconteça via Estados e União. E pelo capital privado, só deslancharia com sinais mais consistentes de que o país começa a se livrar da recessão, detalha.
Iracema, da FEE, também avalia que existem poucas chances de que as taxas de desemprego comecem a recuar neste ano.
– Ainda há espaço para (a desocupação) subir – analisa.
Iracema observa que, pelo lado da economia, há poucas possibilidade de crescimento da atividade que reverta o atual quadro. A tendência para a população economicamente ativa também seria de aumento, o que deverá pressionar o índice de desemprego, acrescenta.