O agravamento da crise política, com o pedido de demissão de Geddel Vieira Lima da Secretaria de Governo, gera efeitos no mercado financeiro. O dólar comercial chegou a subir quase 2%, sendo cotado a R$ 3,4614 às 9h40min desta sexta-feira, mas depois o percentual de alta diminuiu. Às 12h9min, a moeda americana era vendida a R$ 3,4254, o que representa uma elevação de quase 1% – em oposição ao movimento de queda que ocorre em outros países.
A Bolsa de Valores de São Paulo também sente o impacto da crise em Brasília. O Ibovespa registrava uma queda de 0,27% às 12h10min, aos 61.228,69 pontos. Mas, logo na abertura, o índice baixou quase 1%.
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Os investidores reagem ao cenário político que ficou conturbado depois da divulgação do depoimento do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero à Polícia Federal. Dias antes de deixar o governo, o ex-ministro gravou conversas com Geddel, com o presidente Michel Temer e com o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
No depoimento à PF, Calero narrou ter recebido pressão de vários ministros para que convencesse o Iphan a voltar atrás na decisão de barrar o empreendimento La Vue, onde Geddel diz ter adquirido um apartamento, nos arredores de uma área tombada de Salvador.
Em 6 de novembro, Calero afirmou ter recebido "a mais contundente das ligações" de Geddel. No telefonema, o ministro da Secretaria de Governo deixou claro "que não gostaria de ser surpreendido com qualquer decisão que pudesse contrariar seus interesses".
Na versão do ex-ministro da Cultura, Geddel disse, "de maneira muito arrogante", que, se fosse preciso, "pediria a cabeça" da presidente do Iphan, Katia Bogéa, e falaria até mesmo com Temer.
Calero contou à PF que tanto Padilha quanto Temer insistiram para que ele levasse o processo sobre o prédio à Advocacia-Geral da União. Relatou ainda sua contrariedade com as pressões e desabafou com Nara de Deus, chefe de gabinete de Temer, que teria ficado "estupefata".
Segundo Calero, a decisão de deixar o governo veio depois da conversa com Temer e quando o secretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha, telefonou para ele demonstrando a "insistência do presidente" em fazer com que ele interferisse "indevidamente" no processo, enviando os autos para a AGU.