Diante da economia fraca e do arrefecimento da inflação, o Banco Central (BC) decidiu, nesta quarta-feira, começar a afrouxar o torniquete. Quatro anos depois do último corte nos juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) confirmou as expectativas do mercado e reduziu a Selic em 0,25 ponto percentual, para 14% ao ano.
A partir deste primeiro movimento, a aposta é de que tenha iniciado agora um novo ciclo de baixa da taxa básica, na tentativa de recuperar o fôlego da atividade econômica ao baratear o crédito e estimular os investimentos no setor produtivo.
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No comunicado divulgado junto com o resultado da reunião o BC aponta que "o Comitê entende que a convergência da inflação para a meta para 2017 e 2018 é compatível com uma flexibilização moderada e gradual das condições monetárias. O Comitê avaliará o ritmo e a magnitude da flexibilização monetária ao longo do tempo, de modo a garantir a convergência da inflação para a meta de 4,5%".
– O BC vai iniciar um ciclo longo de queda de juro e nada mais propício dos que 0,25 para começar. Sinaliza que há prudência – avalia o economista-chefe da Órama Investimentos, Alexandre Espirito Santo.
O corte de 0,25, conforme esperado pela maioria dos analistas, mostra que o BC segue cauteloso, avaliam economistas. Um dos fatores considerados seria o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses em 8,48%, nível ainda elevado, embora indique trajetória de acomodação, como mostrou o resultado 0,08% em setembro.
Também há a expectativa do próprio mercado de que a inflação oficial do país siga mais amena e chegue ao final de 2017 próximo de 5%, mais perto do centro da meta perseguida pelo BC (4,5%).
– A inflação está em trajetória de desaceleração, mas bem gradual – observa Antônio Madeira, economista da LCA Consultores.
Por outro lado, a decisão indicaria um pé atrás pela necessidade de medidas relacionadas ao ajuste fiscal, como a proposta que limita os gastos do governo federal à inflação nos próximos 20 anos, ainda precisarem de aprovação em um segundo turno na Câmara e, depois, no Senado. Para Hugo Monteiro, analista de investimentos da BullMark Financial Group, pesou mais na decisão o cenário político.
– O Copom foi conservador, principalmente inseguro em relação à aprovação de medidas de âmbito fiscal, não querendo depender do Congresso – entende Monteiro.
O início parcimonioso no ciclo de afrouxamento monetário, porém, não significa que o Copom vá manter o ritmo. Para a última reunião do colegiado, no fim do ano, Espirito Santo aposta que o corte será de 0,50 ponto percentual. A percepção é compartilhada por Carlos Pedroso, economista sênior do Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG). A possibilidade fica fortalecida com a possibilidade de aprovação da PEC dos gastos no Congresso. Essa, aliás, é a projeção do boletim Focus, com a previsão de que a Selic encerra o ano em 13,50%.
O corte dos juros ganha importância em meio a um cenário em que, apesar da melhora dos indicadores de confiança, os números da economia real seguem preocupando, dando sinais de que a recuperação permanece apenas no horizonte. O IBGE mostrou nesta quarta-feira que o setor de serviços recuou 1,6% em agosto ante julho. Na terça-feira, apontou queda de 0,6% nas vendas do varejo no mesmo mês. A produção industrial até subiu 1,6%, mas abaixo do esperado. Com isso, o desemprego segue avançando e alcançou 11,8% no trimestre encerrado em agosto.