À frente da Petrobras há quase cinco meses, Pedro Parente comemora a aprovação na Câmara das novas regras do pré-sal, acabando com a obrigação de a empresa ser a operadora de todos os blocos de exploração. Além de permitir à petroleira escolher quais áreas são mais promissoras, há atração de investimentos estrangeiros a caminho.
Nesta entrevista a ZH por telefone, durante viagem a Londres para expor o plano de recuperação da Petrobras, Parente adiantou que o mercado externo está atento às movimentações no Brasil.
Com a principal missão de recuperar as contas da Petrobras, que amarga dívida de cerca de US$ 120 bilhões, Parente já colocou em prática o plano de venda de ativos e em breve anunciará a nova política de preços da empresa. É grande a expectativa pela redução do valor da gasolina no mercado interno.
Parente também abre o jogo sobre a contratação de plataformas, deixando claro que a principal preocupação é com o cumprimento de prazos, mais do que com o aspecto local.
Confira a entrevista com Pedro Parente na íntegra:
A Câmara aprovou o fim da participação obrigatória da Petrobras na exploração do pré-sal. O que isso significa no plano de recuperação da empresa?
A obrigatoriedade de participação da Petrobras no pré-sal, com 30% sendo operadora em todos os campos, não interessa nem ao país nem à empresa. Não interessa ao país porque, como a empresa está passando por restrições financeiras, isso significaria prorrogar por muito tempo a exploração dessa riqueza imensa que existe no présal. E, sob o ponto de vista da empresa, como a gente já tem muita experiência no pré-sal e estamos com essa escassez de recursos, a gente prefere ter uma opção. A opção nos permite escolher quais são as áreas que a gente considera mais promissoras, que possam dar retorno maior para a companhia e seus acionistas.
Uma gigante do petróleo estaria interessada em investir no Brasil a partir das mudanças nas regras do pré-sal. Há outros investidores interessados?
No dia seguinte à aprovação do projeto na Câmara, tivemos cerca de sete manifestações de interesse de grandes empresas. Perguntas sobre se o projeto tinha sido aprovado ou não, o que realmente achamos que é um sinal muito importante de que a mudança da lei e outras medidas que o governo venha a aprovar em relação ao setor de óleo e gás vão permitir uma vinda muito rápida de investimentos, que são tão importantes para voltarmos a crescer.
O senhor pode confirmar o nome desta gigante do setor que manifestou interesse?
Não posso dizer o nome da empresa, mas o CEO de uma dessas grandes companhias falou comigo e me disse que a empresa voltaria ao país se pudesse ser operadora, que não interessava ser investidor, já que a experiência deles é na operação.
A oposição reclama que o Brasil está "entregando o présal" e que isso faz parte de um plano para a privatização da Petrobras. O que tem a dizer?
Existem posições ideológicas a respeito desse assunto. A missão que recebi foi de recuperar a Petrobras do endividamento, o maior dentro de uma empresa de óleo e gás no mundo, da ordem de US$ 120 bilhões. O nosso olhar é de quem pensa no futuro da empresa, na sua saúde financeira e na sua condição de voltar a investir. Os discursos contra sempre vão existir. E, quando não encontram argumentos, tentam vencer com base nessa coisa dogmática e falando em privatização. Sempre disse que sou contra a privatização da Petrobras, absolutamente contra. Não acho que é assunto que esteja na agenda do dia.
Vocês já negociaram o início da venda da BR Distribuidora. Como é que está o plano de vendas de ativos?
O plano de venda de ativos tem meta de U$ 15,1 bilhões para os dois anos que se encerram em 2016 e mais U$ 19,5 bilhões para 2017 e 2018. Já anunciamos transações na ordem de US$ 10 bilhões. O programa prossegue porque já temos um tremendo sucesso na realização de parcerias.
A Petrobras vai baixar o preço do combustível?
O que devemos fazer proximamente é anunciar política de preço, e essa política será competitiva, terá como base a paridade internacional. Mas é um tema que ainda vai ser discutido na diretoria executiva. Assim que sair uma conclusão, a gente anuncia.
Tem prazo?
Em breve. Prefiro não fixar prazo porque isso sempre funciona contra a gente.
Se paridade é o mercado internacional, a tendência é de redução do valor?
Prefiro não entrar na discussão, mas é claro que, se o preço da paridade é o internacional, tanto pode subir quanto pode descer. No momento, a tendência é de queda do valor. Não vou me comprometer, até porque vai depender da sistemática que a gente vier a aprovar na diretoria-executiva. Não é uma decisão só minha. Mas não passa mais por uma decisão política.
Na nova estrutura de investimento, qual o futuro do Polo Naval de Rio Grande. Qual é o seu plano para aquela região?
A empresa teve algumas dificuldades com relação aos seus fornecedores, especialmente de atrasos, e, por conta disso, foi obrigada a fazer leasing de plataformas. O que posso dizer é que na medida em que algum estaleiro tenha condições de fazer entregas nas condições contratadas, nos preços e prazos combinados, a gente vai contratar desse estaleiro. Não quero ser específico em relação ao Rio Grande do Sul, até porque não é tema que a gente discute com essa especificidade na diretoria-executiva. Mas se há atraso na entrega de uma plataforma, a gente atrasa a retirada de petróleo e isso representa prejuízo.
Qual a sua opinião sobre o regime de partilha. É importante manter a propriedade do óleo com a União ou isso mais atrapalha do que ajuda?
A gente tem hoje três regimes: a concessão, a cessão e o regime de partilha. Acho que isso é mais uma decisão de política do governo e do interesse de atrair investimentos. O que posso dizer é que, nos três regimes, o menos interessante para a empresa é o de partilha. Mas não quero entrar nesse mérito porque essa é uma decisão puramente de governo. Na medida em que o governo coloca as áreas em leilão, nós é que vamos ver se aquela área especificamente tem potencial para poder fazer todos os pagamentos decorrentes desse regime de partilha e ainda ser um investimento rentável. A partir disso é que podemos tomar uma decisão.
O senhor ainda vê na Petrobras resquícios das irregularidades identificadas pela Operação Lava-Jato?
Existem investigações em curso que são conduzidas pela comissão especial liderada pela ministra Ellen Grace (ex-ministra do STF). É um trabalho feito sob a liderança do nosso conselho de administração. O que aconteceu na empresa não é alguma coisa que possa acontecer de novo. O senhor está em Londres, em contato com investidores.
Até que ponto a imagem da Petrobras ficou manchada no Exterior em razão dos escândalos de corrupção?
Quando conversamos com investidores, eles pedem informações sobre o plano de recuperação e como a gente pode estar reduzindo a nossa previsão de investimento e mantendo a curva de produção. Isso foi uma pergunta bastante recorrente. Políticas de preços também foram pergunta recorrente. O tema específico relacionado à corrupção nas nossas discussões, uma vez que a gente veio apresentar o novo plano estratégico, não apareceu. Pelo menos não apareceu com frequência.
Haverá mais algum plano de demissão voluntária?
Já tivemos dois planos de demissão voluntária, um em 2014 e outro que se encerrou no dia 31 de agosto de 2016. E os dois planos juntos tiveram inscrição de 19 mil colaboradores. Isso representa redução do nosso quadro na ordem de 20%. Dentro do nosso programa de redução de custos, já é uma contribuição extremamente importante para esse programa.
O senhor foi ministro da Casa Civil no governo Fernando Henrique Cardoso em um período em que o governo também precisou cortar gastos. Como o senhor hoje vê essa tentativa de estabelecer um teto para os gastos da União?
Estamos com uma trajetória fiscal extremamente perigosa para o país. Não tenho a menor dúvida de que a aprovação dessa emenda constitucional vai trazer repercussões importantíssimas para o país, no sentido de aumentar o fluxo de investimentos, melhorar a visão geral.
E como o senhor vê a Petrobras daqui a cinco, 10 anos?
A Petrobras daqui a cinco anos vai ser uma empresa recuperada do seu estrangulamento financeiro, da dívida. Terá condição de voltar a pensar em outras fontes de energia que sejam mais benéficas ao ambiente, terá condições de voltar a pensar em investir em outras áreas dentro da sua especialidade, que é a de águas profundas. Certamente, será uma das maiores empresas do mundo em óleo e gás, mas com participação crescente de outras fontes de energia e de outros usos, de igual valor agregado para o óleo e gás.
*ZERO HORA