A recente queda do dólar não estava no radar das empresas e pegou a indústria brasileira no contrapé. Em duas semanas, a moeda americana saiu do patamar de R$ 3,40 para R$ 3,20. Na quinta-feira, chegou a bater em R$ 3,18.
A alta do dólar ante o real no ano passado havia recolocado as empresas brasileiras de volta no jogo das exportações. As companhias se tornaram mais competitivas, promoveram uma reorganização interna e passaram a enxergar o mercado externo como uma válvula de escape, no momento em que o país estava mergulhado na pior recessão desde a década de 1930.
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Entre os empresários, os indícios de valorização do real dão uma sensação de déjà vu. Nos últimos anos, um mantra repetido pelo setor industrial era de que a moeda valorizada tirava a competitividade das exportações. E foi o que ocorreu: as empresas brasileiras perderam espaço no mercado internacional.
– A valorização do real tem nos deixado apreensivos. A empresa fez planos imaginando que o dólar estaria mais próximo de R$ 4 do que de R$ 3 – afirma o presidente da calçadista Vulcabrás/Azaleia, Pedro Bartelle.
– Calculamos os nossos preços e fizemos as nossas pré-vendas, mas essa valorização tem corroído o resultado das exportações – comenta.
No ano, a empresa planejava um crescimento de 30% nas vendas para o mercado internacional. Com a mudança de patamar do câmbio nas últimas semanas, reduziu a projeção para alta de 20%.
O cenário se torna mais difícil porque as empresas também estão tendo de lidar com a volatilidade do câmbio. No início deste ano, por exemplo, o dólar chegou a ser cotado acima de R$ 4.
– É muito difícil trabalhar com essa oscilação do câmbio – frisa o presidente da Cedro Têxtil, Marco Antonio Branquinho Junior. – A volatilidade, talvez, seja o maior desafio. A exportação exige um planejamento para 30, 60 ou 90 dias. Num cenário como o atual, de grande oscilação, os empresários estão assumindo riscos muito grandes – completa.
Nos anos de real valorizado, entre 2% e 3% do faturamento da Cedro vinham da exportação. Com a desvalorização da moeda, a companhia projetou um aumento dessa fatia para 10% em 2016, e chegou a sonhar com 15%.
– O volume de 10% já foi alcançado no primeiro semestre. Eu até pensei que essa projeção fosse um pouco tímida e cheguei a projetar 15% – menciona o empresário. – Agora, ela fica em suspenso. A fatia que já alcançamos pode ser considerada um bom patamar – emenda.
Na Fakini Malhas, todas as vendas feitas com um câmbio inferior a R$ 3,50 estão representando perda de rentabilidade para a empresa.
– Para o segundo semestre, as propostas para o mercado internacional foram feitas com um câmbio na casa dos R$ 3,50. Nesse momento, se fecharmos algum negócio, vamos levar um prejuízo – diz Francis Giorgio Fachini, diretor comercial da empresa. – Como o volume de exportação não é tão expressivo para comprometer o nosso negócio, nós conseguimos administrar essa redução de margem momentânea – acrescenta.
Na avaliação de André Leone Mitidieri, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), o atual patamar do dólar já prejudica as exportações brasileiras.
– Para reduzir os estoques acumulados, a indústria conseguia baixar o preço em dólar por causa da taxa de câmbio desvalorizada – pontua Mitidieri. – Com essa valorização recente, a margem do início do ano pode ter sido perdida – conclui.