O governo federal reconheceu ontem que poderá ajudar na elaboração de plano de venda da Oi, que entrou segunda-feira com pedido de recuperação judicial, após acumular dívida de R$ 65,4 bilhões. Esse valor representa mais de um terço do estimado rombo no orçamento público do país neste ano.
Segundo o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, caso a empresa de telecomunicações solicite auxílio, BNDES e Banco do Brasil (BB) poderão ajudar na elaboração de um plano de venda com o objetivo de recuperar os empréstimos feitos à companhia privada e impedir demissões em massa. O ministro negou que o governo possa fazer interferência ou qualquer aporte financeiro para socorrer a operadora. O Palácio do Planalto tem tentado encontrar um comprador estrangeiro, mas, até o momento, não teve sucesso.
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Ontem, o bilionário egípcio Naguib Sawiris, um dos homens mais ricos de seu país e dono de participação majoritária na Orascom Telecom, manifestou interesse na Oi. Em entrevista à agência de notícias Bloomberg, ele ratificou a intenção de compra. Para o bilionário, a companhia tem grande potencial, mas é necessário que a dívida seja reestruturada e a empresa receba aumento de capital e tenha forte plano industrial. Ele disse que está pronto a investir se tiver exclusividade nas negociações.
A Oi é a maior operadora do Brasil em telefonia fixa, empatada com a Vivo (cada uma tem participação de 34,4%), e a quarta em celular, com 18,6%. BNDES, BB e Caixa são os maiores credores individuais no país. No Exterior, Citigroup e BNY Mellon lideram a lista. A maior parte da dívida é financeira (cerca de R$ 50 bilhões). Entram ainda na conta R$ 14 bilhões em contingências – como multas da Anatel e discussões judiciais – e cerca de R$ 1,5 bilhão para fornecedores. Da dívida financeira, em torno de 70% são em moeda estrangeira e boa parte vence neste ano. No primeiro trimestre, a empresa queimou R$ 8 bilhões do caixa, a maior parte para honrar parte desses compromissos.
Ontem, as ações da Oi fecharam em forte queda: as preferenciais recuaram 18,18% e as ordinárias, 8,73%. A companhia chegou a influenciar o desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo em razão da preocupação com a exposição de bancos com a dívida da Oi.
Após queda de 1,29% pela manhã, houve recuperação à tarde, com melhora de percepção dos investidores quanto ao desfecho da situação da empresa. O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal Filho, disse que as instituições financeiras estão bem provisionadas.
Da supertele à recuperação jucicial
-A "supertele nacional" surgiu em 2008, quando a Oi se fundiu com a Brasil Telecom, criando à época uma empresa com atuação em todos os Estados, à exceção de São Paulo. Para que essa fusão fosse feita, o governo federal teve de mexer na legislação – havia uma série de entraves legais ao negócio. O desembolso foi de R$ 5,8 bilhões e a dívida da companhia subiu para R$ 21 bilhões.
-Segundo Servio Lazzarini, professor do Insper, "no caso da Oi, houve uma conjugação política importante. Foi uma movimentação que buscava duas coisas: resolver os conflitos que estavam ocorrendo entre os acionistas e a decisão do governo Lula de criar grandes grupos".
-Em entrevista recente, Rodrigo Zeidan, professor de Economia da Fundação Dom Cabral, disse que um dos problemas da política de campeãs nacionais foi não ter focado em setores estratégicos, mas sim em empresas que mantinham boa relação com o governo federal.
-O resultado dessa ação foi variada: enquanto a JBS se tornou líder global em carnes e a Fibria é a maior empresa de celulose do país, a LBR, de lácteos, pediu recuperação judicial e saiu do mercado. O frigorífico Marfrig também tem atuado no vermelho e teve de vender ativos.
-Em 2013, também com ajuda do governo, a Oi, já em dificuldades, se uniu à Portugal Telecom. Foram injetados R$ 14 bilhões na empresa. A ideia foi vendida, à época, como uma forma de criar uma multinacional de língua portuguesa capaz de concorrer até em outros continentes.
-Mas nada disso deu certo, a dívida da empresa de telecomunicações não parou de subir e ultrapassou R$ 50 bilhões no ano passado. O tamanho do débito inviabilizou negociações e acabou culminando na recuperação judicial.