Correção: das 10h24min às 15h56min, o título e o texto desta notícia informaram incorretamente que lotes de água mineral comercializados pela marca Do Campo Branco estavam contaminados com coliformes fecais. Na verdade, tratavam-se de coliformes totais. A informação foi corrigida.
Depois do leite, os gaúchos foram surpreendidos com suspeita de fraude em outro produto elementar. Água mineral com bactéria e coliformes foi vendida em larga escala ao consumidor, escancarou o Ministério Público Estadual (MP) em operação deflagrada nesta quinta-feira no Interior. Uma empresa, que envasava água de pelo menos três rótulos, foi punida com a prisão de dois sócios e de um funcionário.
O Estado já foi palco de 10 operações Leite Compen$ado, além de três Queijo Compen$ado. Agora, a água entrou no radar do MP.
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– A legislação é clara: vender produto adulterado, corrompido ou fraudado é crime. O leite era adulterado, a água foi comprovadamente corrompida, e eles (donos) sabiam – afirma o promotor Mauro Rockenbach, se referindo às adequações pedidas pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) para renovar a licença ambiental da empresa, e que nunca foram realizadas.
– Vamos analisar outras marcas de água e, se houver fraude, haverá desdobramentos – completa.
As investigações desvendaram um esquema criminoso que consistia na venda da água mineral Do Campo Branco em condições impróprias para consumo humano. Além da presença da bactéria Pseudomonas aeruginosa e de coliformes totais, o produto também continha limo, sujeira e mofo.
Conforme o glossário de saneamento e meio ambiente a Fiocruz, os coliformes totais indicam a presença de bactérias na água, que não representam, necessariamente, problemas para a saúde humana. Estão associadas à decomposição de matéria orgânica em geral.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que a água mineral deve ser totalmente livre de Pseudomonas, devido à vulnerabilidade de crianças e idosos. A bactéria é causadora de infecções respiratórias, urinárias e da corrente sanguínea em pessoas com a saúde debilitada.
Laudos realizados pela própria empresa e outros solicitados pelo MP apontaram problema nos lotes 410 e 421, de 2015, e 028 e 272, estes últimos de água mineral com gás de 1,5 litro, com validade até setembro de 2016.
De acordo com os promotores Mauro Rockenbach e Alcindo Bastos, os dois sócios e o químico da empresa Do Campo Branco sabiam das péssimas condições da água e mesmo assim a repassavam ao comércio. Eles devem responder por associação criminosa e adulteração de bebidas. A empresa também trabalhava com as licenças sanitária e de operação vencidas.
O esquema, segundo o MP, contava com a ajuda do chefe da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), com sede em Lajeado. Em janeiro deste ano, uma inspeção detectou a contaminação na água e foi pedida a interdição da indústria, por reincidência, e multa. Porém, o coordenador da 16ª CRS, Vitor Hugo Gerhardt, transformou a medida em advertência. Os promotores pediram a suspensão do exercício da função pública do coordenador.
A água mineral Do Campo Branco é vendida em grandes redes de supermercado, em eventos de esporte e música e também foi oferecida em viagens por companhia aérea. O produto também era comercializado pelas marcas Roda D'Água e Carrefour.
A Secretaria Estadual de Saúde afirma que uma equipe da Vigilância Sanitária acompanhou a operação no Vale do Taquari, mas que espera ser informada oficialmente pelo MP para então iniciar a retirada de produtos que ainda possam estar em supermercados. A SES também aguarda a notificação sobre o afastamento do coordenador da 16ª CRS e deve se manifestar somente na terça-feira sobre o assunto.
CONTRAPONTO
O advogado Flávio Antônio Ferri, que acompanhou a prisão do irmão Ademar Paulo Ferri e assessorou as detenções do também sócio-diretor Paulo Moacir Vivian e do químico industrial Marcelo Colling, afirma que a contaminação encontrada pela Operação Gota D´Água foi pontual e o problema já foi solucionado. A empresa teria inclusive laudos comprobatórios.
– A água é boa. Minha família bebe, todos nós bebemos e nunca houve problema nenhum – afirmou o advogado.
Ainda conforme ele, a empresa aguarda há três uma resposta da Fepam quanto a um protocolo de renovação de licença da fonte de água mineral.
No entanto, segundo o advogado, devido ao envolvimento pessoal com o irmão e com a empresa, já que sua família é dona de parte da terra onde fica a fonte de água em Progresso, a defesa dos três deverá ser repassada a outro escritório, que ainda não foi definido.
Vitor Hugo Gerhardt não foi localizado por Zero Hora. A Secretaria Estadual de Saúde informou que foi aberta uma sindicância ontem à noite e que o coordenador foi afastado até a conclusão dos trabalhos.
O diretório estadual do PMDB não quis comentar a citação ao partido.
Em nota, o Carrefour informou que todas as lojas gaúchas "estão retirando das gôndolas todas as marcas de água mineral envasadas pela empresa em questão, incluindo seu rótulo próprio (Carrefour), que é comercializado apenas no Estado". Além disso, o supermercado diz que suspendeu o fornecimento dos produtos da Mineração Campo Branco "até que seja apurada a eventual extensão do problema para outros lotes".