O esquema de distribuir água mineral contaminada com bactéria e coliformes ao consumidor foi facilitado por pressão política. De acordo com o Ministério Público, o chefe da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Vitor Hugo Gerhardt, foi indicado ao cargo pelo PMDB, mesmo partido dos sócios da empresa Do Campo Branco, presos nesta quinta-feira na Operação Gota D'Água. Os dois teriam usado o fato de serem filiados à legenda para pressionar o coordenador com o objetivo de evitar autuações e até a interdição da indústria.
– Nas interceptações telefônicas nós identificamos que o Vitor era pressionado por eles a não agir porque havia sido indicado pelo PMDB ao cargo que ocupava – diz o promotor Mauro Rockenbach.
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As escutas ainda não foram liberadas pela Justiça para divulgação, mas, segundo o MP, revelam que um dos sócios teria encontrado Vitor em um determinado local e que teria dito para ele fazer vistas grossas porque eram "do mesmo partido".
Em janeiro deste ano, uma inspeção da 16ª CRS, que estava checando o cumprimento de ações propostas em julho de 2015 para a marca Do Campo Branco, detectou novas fragilidades no controle de qualidade da água mineral, o que levou o órgão a sugerir a interdição da indústria. No entanto, a medida foi transformada em advertência por Vitor Hugo.
– Não posso dizer que ele teve participação no esquema, mas ele prevaricou em vários momentos e, por isso, pedimos o afastamento dele – ressalta Rockenbach.
Vitor Hugo será notificado ainda nesta quinta-feira do pedido do MP e deverá deixar o cargo. A Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou que, até o momento, não tem uma posição sobre o afastamento do coordenador.
Deflagrada nesta quinta-feira, a Operação Gota D'Água prendeu três pessoas, dois sócios e o químico da empresa Do Campo Branco, e interditou a indústria provisoriamente.
As investigações desvendaram um esquema criminoso que consistia na venda da água em condições impróprias para consumo humano. Além da presença da bactéria Pseudomonas aeruginosa e de coliformes, o produto também continha limo, sujeira e mofo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que a água mineral deve ser totalmente livre de coliformes e Pseudomonas, devido à vulnerabilidade de crianças e idosos. A bactéria é causadora de infecções respiratórias, urinárias e da corrente sanguínea em pessoas com a saúde debilitada. Já a ingestão de coliformes provoca graves distúrbios gastrointestinais.
Laudos realizados pela própria empresa e outros solicitados pelo MP apontaram problema nos lotes 410 e 421, de 2015, e 028 e 272, esses últimos de água mineral com gás de 1,5 litro, com validade até setembro de 2016.
O QUE DIZ A DEFESA
O advogado Flávio Antônio Ferri, que acompanhou a prisão do irmão Ademar Paulo Ferri e assessorou as detenções do também sócio-diretor Paulo Moacir Vivian e do químico industrial Marcelo Colling, afirma que a contaminação encontrada pela Operação Gota D´Água foi pontual e o problema já foi solucionado. A empresa teria inclusive laudos comprobatórios.
– A água é boa. Minha família bebe, todos nós bebemos e nunca houve problema nenhum – afirmou o advogado.
Ainda conforme ele, a empresa aguarda há três uma resposta da Fepam quanto a um protocolo de renovação de licença da fonte de água mineral.
No entanto, segundo o advogado, devido ao envolvimento pessoal com o irmão e com a empresa, já que sua família é dona de parte da terra onde fica a fonte de água em Progresso, a defesa dos três deverá ser repassada a outro escritório, que ainda não foi definido.
Vitor Hugo Gerhardt não foi localizado por Zero Hora. A Secretaria Estadual de Saúde informou que foi aberta uma sindicância ontem à noite e que o coordenador foi afastado até a conclusão dos trabalhos.
O diretório estadual do PMDB não quis comentar a citação ao partido.