O tombo nas temperaturas não parece combinar com a guinada nos preços de alguns dos quitutes mais apreciados pelos gaúchos nas estações frias. O campeão da inflação neste outono é o pinhão, cujo valor do quilo rompeu os dois dígitos nos supermercados e nas feiras da Capital. Em alguns estabelecimentos, a semente sai por calorosos R$ 11,99.
– O pinhão teve uma quebra de safra de 20% neste ano, por isso, os preços estão altos e devem continuar altos – avisa Antônio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas).
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Tampouco quentão ou chocolate quente dão refresco ao bolso. Conforme o levantamento de preços da UFRGS (IPC/Iepe), o preço médio da garrafa de vinho subiu 11,8% nos últimos 12 meses, e a embalagem de 400g do chocolate em pó, 23,3%. Nos dois casos, as altas são superiores à inflação de Porto Alegre no período (11,4%).
– Os chocolates têm um problema de escassez mundial de matéria-prima, que já se refletiu nos preços dos ovos nesta Páscoa – lembra Longo.
No caso dos vinhos, houve aumento de impostos na virada do ano, e a disparada do dólar atinge em cheio os rótulos importados. Até o mocotó, feito com ingredientes de menor refino, salgou de vez: o custo de preparo subiu quase 20%, conforme restaurantes e aficionados pelo prato. Que o diga a dona Regina Costa da Silva, 58 anos, moradora do bairro Ipanema que há 10 anos prepara mocotó para vender a conhecidos.
Ano passado, ela gastava pouco mais de R$ 15 para preparar um kit que serve de três a quatro pratos. Neste ano, refez as contas e viu que gastaria quase R$ 18 por porção – sem contar o gás e a entrega – o que estrangula o lucro, já que pretendia vender a unidade a R$ 24.
– Como procuro usar só ingredientes de primeira, fica difícil buscar opções mais baratas – diz.
O quilo do mondongo no Mercado Público passou de R$ 7,99 no ano passado para R$ 15,90, afirma Regina. A linguiça defumada ao estilo nordestino foi de R$ 14,90 para R$ 19,90.
– Ainda estou pensando se vale a pena vender mocotó neste ano. Se subir o preço, corro o risco de não achar quem compre – afirma Regina.
Se serve de consolo ao paladar, a erva-mate e a bergamota – combinação boa para passar o tempo sob o sol nos parques – ficaram mais baratas do ano passado para cá. A erva-mate, que chegou a passar dos R$ 13 no ano passado, reencontrou preços um pouco mais razoáveis, e a média do quilo sai por R$ 12,35.
Dá para escapar da inflação
O consumidor não precisa ficar preso a alimentos que subiram muito de preço, afirma a nutricionista do Programa Mesa Brasil Sesc Porto Alegre, Ana Carolina Dedavid Ferreira. Procurar frutas, legumes e verduras da estação cujos valores sejam mais amigáveis é opção boa para o bolso e uma chance de descobrir novos sabores.
– O pinhão, por exemplo, pode ser substituído pela batata-doce ou pelo aipim, que são da mesma família e ficam bem saborosos no forno – sugere Ana Carolina.
O quilo do aipim com casca na Capital está R$ 2,61, e o da batata-doce, R$ 3,72, conforme levantamento da UFRGS. Como alternativa ao quentão, feito com vinho, Ana recomenda chá de casca de maçã com canela. E o desejo pelo doce não precisa terminar em um copo de chocolate quente:
– Uma dica é fazer bolo com cascas de banana para comer quentinho. Tanto o bolo quanto o chá (de cascas de maçã) aproveitam partes dos alimentos que iriam fora.
Substituir os ingredientes do mocotó é mais difícil, em razão da especificidade do prato. Mas considerando o preço do mondongo e da linguiça defumada, Ana Carolina aponta que pode ser mais vantajoso cozinhar lentilha bem farta ou canja de galinha – o quilo da carne de frango custa R$ 7 na Capital –, aproveitando os legumes que ficam mais baratos nesta época do ano.