Acostumado a ter o desempenho da economia influenciado ao clima, o Rio Grande do Sul parece depender mais agora da atmosfera de Brasília para sair da recessão. Tragado pela paralisia instalada no país derivada da crise política, o Estado viu o PIB do terceiro trimestre encolher 3,4% na comparação com o mesmo período da 2014, mostrou nesta quarta-feira a Fundação de Economia e Estatítica (FEE). No acumulado do ano, o recuo é de 1,7%.
O resultado igualou o recorde negativo observado entre 2004 e 2005 de seis trimestres consecutivos no vermelho. Com a tempestade política chegando agora ao ápice, o Rio Grande do Sul caminha para engatar uma sequência ainda mais longa de queda na atividade.
- A diferença é que em 2004 e 2005 tínhamos uma razão bem definida que era a seca - observa o economista Martinho Lazzari, diretor técnico da FEE, lembrando que, à época, o Brasil crescia e o clima no Estado em seguida se normalizou.
PIB gaúcho cai 3,4% no trimestre
Para Roberto Rocha, coordenador do núcleo de contas regionais da FEE, a retração da economia gaúcho é reflexo da piora do cenário macroeconômico do país, que reúne alta do dólar, da inflação, do desemprego, enxugamento do crédito e queda da renda. Como não existem sinais de recuperação, tudo indica que o Estado vai enfileirar pelo menos o sétimo trimestre seguido no negativo, admite Rocha.
Setor que primeiro sentiu a desaceleração da economia, a indústria também amargou a sexta retração trimestral consecutiva no Estado. Entre julho e setembro, caiu 9,4% e, ao longo do ano, acumula retração de 8,4%. Uma das causas, aponta Rocha, está no perfil das fábricas gaúchas, com forte participação de bens de capital, como máquinas e equipamentos, segmentos com quedas vertiginosas de vendas no Brasil.
Acompanhe outras notícias de economia
- Tivemos grande queda na taxa de investimento do país, na ordem de 15% - lembra Rocha, referindo-se ao resultado divulgado pelo IBGE para o terceiro trimestre no país.
Com o maior peso na economia, o setor de serviços recuou 2,3% no trimestre. O desempenho foi afetado principalmente pela redução brusca das vendas no comércio, de 12,5%. Das 11 atividades do comércio analisadas, apenas uma, de artigos farmacêuticos, teve variação positiva (0,1%), por ser de produtos considerados mais essenciais.
Colchão que amortece o recuo da economia no ano, a agropecuária novamente destoou. Cresceu 18,4% no trimestre, ajudada principalmente pela produção de aves, mostra a FEE. Ao longo de 2015, o campo é o único a ter uma performance positiva. Se fosse retirado do cálculo o crescimento de 10,7% da agropecuária, o PIB gaúcho no acumulado do ano teria uma queda em torno de 2,7%, um ponto percentual a mais. Uma questão que preocupara para o próximo ano, admite a FEE, é a alta base de comparação com a última safra. Como a previsão para 2016 é de uma colheita menor no Estado, a agricultura tenderia a não conseguir amortecer a retração dos demais setores no próximo ano.
Apesar de a economia gaúcha ter caído menos no trimestre em comparação com a brasileira, no comércio a situação se inverte. Entre julho e setembro, o setor no Rio Grande do Sul apresentou uma retração de 12,5% em relação ao período equivalente de 2014, enquanto no país o recuo foi de 9,9%. No Estado e no Brasil, foi a sexta queda consecutiva.
Para Rocha, a queda mais aguda no comércio gaúcho pode ter relação com o perfil de renda e de consumo.
- No Estado, temos uma renda média mais alta e um consumo mais sofisticado. Quando cai a renda, impacta mais porque há mais itens em que o consumo pode ser retardado. Em regiões com renda menor, as pessoas não deixam de consumir o essencial - observa Rocha, lembrando que o crédito mais restrito também tem o potencial de afetar venda de produtos de maior valor, como automóveis, móveis e eletrodomésticos.
Para o presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Luiz Carlos Bohn, existem mais fatores que explicam o desempenho ruim do comércio gaúcho. Um deles é a inflação acima da nacional. Enquanto o IPCA do país em 12 meses fechou em 10,48%, na região metropolitana de Porto Alegre o índice foi de 11,2%.
Outro ponto importante, diz o dirigente, é relacionado à crise das finanças públicas no Estado, que aumenta a demora para o pagamento de fornecedores e levou, por exemplo, a atraso no salário do funcionalismo no terceiro trimestre.
- Isso gera um clima de falta de confiança - observa Bohn, que nota a continuidade do baixo volume de vendas no quarto trimestre.
Apesar de ter recalculado os resultados do PIB do Estado para o período de 2010 a 2013 de acordo com a nova metodologia utilizada pelo IBGE, os números referentes a 2014 e 2015 ainda foram apurados conforme a fórmula antiga. A revisão será feita nos próximos meses. Com isso, a FEE não divulgou o cálculo da taxa dessazonalizada, que compara o período de julho a setembro com o trimestre imediatamente anterior.
ATIVIDADE EM QUEDA
3º tri de 2015*
PIB: -3,4%
Agropecuária: + 18,4%
Indústria: -9,4%
Serviços: - 2,3%
Impostos: -7,4%
* Em relação ao mesmo período de 2014
Acumulado do ano
PIB: -1,7%
Agropecuária: 10,7%
Indústria: -8,4%
Serviços: -1%
Impostos: -5,1%
Comparação com o país**
3º tri de 2015 x 3º tri de 2014
RS: -3,4%
Brasil: -4,5%
Acumulado do ano
RS: -1,7%
Brasil: -3,2%