Durou apenas um dia o entusiasmo do mercado com a possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Após a forte alta de 3,29% na quinta-feira, o índice Ibovespa fechou o pregão desta sexta-feira com uma queda de 2,23% devido à preocupação com a possibilidade de a crise política recrudescer e atrasar ainda mais a recuperação da economia. Durante o dia, a retração encostou nos 3%. Enquanto isso, o dólar comercial encerrou em baixa moderada de 0,26%, a R$ 3,73.
Para Thiago Montenegro, operador da Quantitas, em um primeiro momento o mercado leu que a hipótese de o vice Michel Temer chegar à presidência da República melhoraria a governabilidade do país. Isso, explica, levou investidores que apostavam na queda das ações de empresas brasileiras a passarem para a ponta compradora. Um dia depois, preponderou a cautela com a instabilidade gerada pelo processo de impeachment. A avaliação foi reforçada pela análise das agências de risco Moody's e Fitch, que alertaram para as dificuldades ainda maiores para a implementação do ajuste fiscal.
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- Ontem (quinta-feira) houve otimismo com a possibilidade de mudança de cenário. Hoje (sexta-feira) pesaram mais os riscos de termos até seis meses de muita instabilidade e pouca previsibilidade - observa Montenegro.
Com uma avaliação parecida, Marco Antônio dos Santos Martins, professor de finanças da ESPM e diretor técnico da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais/Extremo Sul (Apimec-Sul), entende que, na quinta-feira, o entendimento preponderante foi de que a queda de Dilma anteciparia uma solução para governabilidade no país.
- O mercado saiu precificando essa melhora na economia antes de 2018. Mas isso gera uma enorme incerteza. Todas as atenções estarão voltadas para o Congresso e a comissão de impeachment, sem clima para votar reformas. Junto com isso teremos juros e desemprego subindo, PIB caindo e estrangeiros mais receosos com o Brasil - diz Martins, que prevê grande volatilidade no mercado financeiro nas próximas semanas.
Para o especialista, o melhor agora seria o Congresso cancelar o recesso para a disputa em torno do impeachment ter um desfecho o mais rápido possível. Favorável ou contrário a Dilma.
- É sempre melhor um fim com horror do que um horror sem fim - brinca Martins.
As estatais, que na quinta-feira puxaram a forte alta, nesta sexta encerraram a jornada em queda. A ação preferencial da Petrobras caiu 6%. Banco do Brasil teve retração de 3,6% e Eletrobras de 5,6%.
Também ficou no radar dos investidores nesta sexta-feira a geração de empregos nos Estados Unidos em outubro. As 211 mil vagas criadas, acima das 196 mil esperadas, reforçaram a possibilidade de o banco central americano subir o juro ainda em dezembro, movimento que teria o potencial levar a uma saída de dólares de emergentes como o Brasil.