A Moody´s tirou o selo de bom pagador do Banrisul. A agência de classificação de risco cortou nesta quinta-feira a nota de longo prazo da dívida em moeda estrangeira do banco estatal gaúcho de Baa3, último degrau antes da perda do grau de investimento, para Ba1, patamar imediatamente abaixo. Com isso, o Banrisul passa para grau especulativo. A perspectiva da avaliação ficou negativa, o que indica chance de novo rebaixamento.
Em setembro, o Banrisul também teve o grau de investimento retirado pela Standard & Poor´s (S&P). A agência fez o mesmo com várias grandes empresas, como Petrobras, e algumas das principais instituições financeiras do Brasil, como Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco.
A perda de mais uma nota em grau de investimento, a segunda nas últimas semanas, pode afetar os investidores externos do banco. Grandes fundos institucionais costumam ter rígidos estatutos que só permitem investir em papéis de países, instituições e empresas que tenham ao menos duas notas em grau de investimento entre as três grandes agências de análise de risco, S&P, Moody's e Fitch.
Em sua justificativa, a Moody´s disse notar uma deterioração gradual dos indicadores de qualidade dos ativos do banco ao longo dos últimos trimestres, o que tem afetado a rentabilidade e os custos de crédito, além de pressões adicionais relacionadas ao ambiente econômico, cada vez mais fraco. "A deterioração da qualidade dos ativos tem impulsionado um aumento de 110% nas despesas com provisões do banco em 12 meses terminados em junho de 2015", diz a Moody´s em seu relatório. Outros riscos citados pela agência são a atuação muito centralizada no Rio Grande do Sul e a grande exposição ao setor do agronegócio.
A Moody´s levou ainda em consideração o agravamento da situação fiscal do governo gaúcho, controlador do Banrisul, devido aos sucessivos déficits nos últimos anos. Lembra da suspensão do pagamento de parcelas da dívida com a União e dos atrasos dos salários do funcionalismo público, que representaria cerca de 15% das operações de crédito do banco estatal gaúcho, o que eleva o risco para os indicadores do Banrisul.
Entre os fatores considerados positivos pela Moody´s estão a boa liquidez e a forte participação de mercado no Banrisul no Estado, o que garante boa fonte de captação de recursos. Também nesta quinta-feira, a Moody´s manteve perspectiva negativa para todo o sistema bancário brasileiro em função de uma longa recessão que o país deve atravessar.
Para o diretor financeiro e de relações com investidores do Banrisul, Ricardo Hingel, o Banrisul foi rebaixado devido ao cenário recessivo da economia brasileira, agravado pela crise política, o que levou a Moody´s deixar todo o sistema financeiro do país em perspectiva negativa. Sobre as particularidades apontadas pela agência em relação ao banco, discorda quanto à avaliação de que a crise financeira do Piratini piora o cenário.
Segundo Hingel, o parcelamento dos salários leva apenas a um retardamento dentro do mês do pagamento das parcelas mensais dos empréstimos do funcionalismo. Somados as operações com consignado e crédito mobiliário, o valor mensal seria de cerca de R$ 100 milhões, pouco em relação à carteira total do banco, sustenta Hingel.
- Me preocupa muito mais a situação da economia brasileira do que as finanças estaduais. O risco de inadimplência é vinculado mais ao cenário nacional, que também afeta a arrecadação do Estado e a economia do Rio Grande do Sul, o mercado onde atuamos - diz Hingel.
Sobre a possibilidade de aplicadores institucionais, principalmente estrangeiros, retirarem investimentos no banco por força de estatutos que permitem alocação de recursos apenas em empresas que são grau de investimento, Hingel diz que isso é possível, mas por enquanto difícil de mensurar.
Ele ainda contesta a explicação simplificada de que a retirada do grau de investimento significa uma espécie de perda do atestado de bom pagador.
- Ambev e Bradesco também perderam o grau de investimento (pela S&P). Isso não quer dizer que são maus pagadores - exemplifica Hingel, citando dois dos maiores grupos empresariais do Brasil.