O corte na nota de crédito do Brasil pela agência Fitch - o terceiro em três meses - foi uma das decisões mais especuladas nas últimas semanas. O rumor pegou fogo em 18 de setembro, levando o dólar para cima e a bolsa para baixo. Demorou quase um mês para se confirmar, e veio ainda pela manhã, horário pouco usual. As agências costumam esperar o mercado fechar para anunciar cortes ou elevações de rating (análise de crédito). A primeira reação foi de nervosismo, mas à medida que a decisão foi digerida, percebeu-se que estava precificada.
O alívio foi tão grande que teve até político tentando vender a decisão como "boa notícia" - uma vez que o Brasil manteve as duas notas em grau de investimento necessárias para segurar recursos de fundos institucionais no país. Não é. Nem tem como ser. Embora a Fitch tenha apenas calibrado sua nota com as das outras duas grandes, a decisão abre caminho para uma futura retirada do selo de bom pagador. Como havia adiantado o diretor-geral no Brasil, Rafael Guedes, a Fitch não costuma fazer ajustes de dois degraus de uma só vez sem forte justificativa. Cumpriu.
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Sinal de que nada piorou nesta semana, o prêmio de risco dos Credit Default Swaps (CDS), espécie de seguro contra calotes, recuou 3,11% ontem em relação ao dia anterior. Sinal de que o quadro não é confortável, está em 436 pontos, muito acima de países com notas parecidas com as do Brasil. O prazo para desfazer o nó político e econômico encurtou, ou seja, aprovar as medidas que garantam superávit mínimo em 2016. Sem isso, a perda das duas notas em grau de investimento é só questão de tempo. O espaço político para isso até aumentou.