No ambiente de suspeitas e incertezas do Brasil neste 2015, você já deve ter se confundido com uma ordem de grandeza: o rombo real das contas públicas não seria de R$ 51,8 bilhões, como projetou nesta terça o governo, mas superior a R$ 500 bilhões. Para esclarecer: os dois números estão certos.
Como assim? Quando o governo informa o déficit de R$ 51,8 bilhões, refere-se ao resultado antes de contabilizar o pagamento dos juros da dívida pública. É o déficit primário.
Quando economistas advertem que o rombo é maior, ao redor de R$ 500 bilhões, estão incluindo no buraco o que deveria ser pago como remuneração a quem empresta ao governo. Esse é o déficit nominal.
As duas formas de cálculo são informadas, de forma corriqueira e transparente, pelo Banco Central.
No mais recente relatório de política fiscal do BC, de 30 de setembro, a cifra gigante está lá: em 12 meses fechados na data, o déficit nominal acumulado é de R$ 528,3 bilhões, ou 9,21% do PIB – 0,40 ponto percentual acima do somado até o mês anterior. As contas públicas no Brasil sempre foram avaliadas pelo resultado primário, déficit ou superávit.
O problema real é que, em qualquer fórmula, isso equivale a mais dívida. Se não há recursos suficientes para pagar juros, o valor correspondente vai se somar às pendências. E mais endividamento piora a avaliação do país no Exterior.
A relação entre dívida e PIB é o principal indicador examinado pelas agências de classificação de risco. Se cresce, governo e empresas têm de pagar juros mais altos, o que realimenta o gasto público e torna mais caros produtos e serviços que dependem de crédito.