O agravamento da incerteza jogou o Brasil de volta à década entre meados de 1980 e de 1990, quando sexta-feira era o dia nacional do boato. Parece que foi nesta sexta. A dúvida sobre a permanência de Joaquim Levy na Fazenda e a expectativa sobre o rebaixamento da nota de risco do Brasil, agora pela Fitch, levaram o dólar a encostar em seu recorde nominal histórico.
Espectador privilegiado desses movimentos do passado, o ex-secretário de Política Econômica Julio Sergio Gomes de Almeida avalia que o mercado especula diante da "insegurança geral sobre o que pode acontecer".
E não necessariamente no mau sentido, mas com a intenção de "adivinhar o dia de amanhã":
- Não víamos isso há mais de uma década porque não havia a insegurança aguda que temos agora, com um grande desarranjo político e econômico.
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O economista que atua como consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) considera o dólar a R$ 4 "um exagero". Nem para o exportador é bom negócio, sustenta. E ainda embute o risco de comprometer empresas que se endividaram em dólares.
- Trocaria, se pudesse, uma cotação estável em torno de R$ 3,40, R$ 3,50, por esse dólar muito alto - diz o economista.
A R$ 4, diz Gomes de Almeida, o câmbio mais desorganiza do que incentiva as exportações. Os números, até agora, comprovam. Tudo o que o país colheu, com a disparada de quase 50% da moeda norte-americana no ano, foi a correção da balança comercial pela redução da importação. Só que muitas empresas dependem de insumos ou matérias-primas importadas para funcionar. Por isso. é importante ter um "dólar de equilíbrio" que garanta resultado positivo pela via virtuosa.
- O que é mais grave é a incapacidade do governo e de suas alianças de seguir algum caminho - observa o analista.
A especulação tomou conta do mercado, pondera, por conta dos sinais erráticos dados pelo Planalto. E se existe em todos os segmentos - bolsa, juros futuros - tem seu "berço esplêndido" no câmbio, que é o que mais sente os efeitos da incerteza. Na avaliação do ex-secretário da gestão Mantega, o Banco Central tem bala na agulha para segurar o rojão. Mas não quer dizer que o fará. É com essa outra incerteza que o mercado joga.