Depois de afirmar que havia esgotado o arsenal de medidas anticíclicas - destinadas a fazer a economia girar ao contrário de sua tendência natural -, o governo federal reeditou a estratégia. Para tentar suavizar os efeitos do ajuste fiscal, o Planalto autorizou ontem o aumento no limite do endividamento com empréstimo consignado para pagar despesas com o cartão de crédito. A medida seria menos surpreendente se servisse apenas para quitar dívidas impactadas pelo juro do rotativo, que tem custo de 290% ao ano, 20 vezes mais do que a taxa básica.
Mas ao deixar em aberto a destinação a "despesas com cartão de crédito", a medida provisória evidencia a tentativa de combater o desânimo no varejo. Segundo Carlos Thadeu de Freitas, chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), não haveria cenário de explosão de inadimplência no cartão de crédito que justificasse a medida.
No entanto, adverte que o efeito final da medida pode ser, sim, uma elevação de faturas "penduradas", diante da inflação que não cede e do esperado aumento no desemprego:
- Nesse momento, não parece uma das medidas mais salutares.
Freitas não é um crítico contumaz do governo, independente da natureza da medida tomada. Avalia que os esforços de ajuste fiscal estavam indo no sentido correto até agora. Só teme que essa "liberalidade", tomada na hora errada, possa induzir ao aumento de consumo, com consequente elevação do endividamento, na hora errada.
A questão é que o Banco Central tem elevado o juro exatamente para, ao conter o consumo, forçar a baixa da inflação. Freitas pondera que ao elevar o limite do consignado, é como se o governo concedesse um aumento de salário. Só que, dessa forma, tem de devolver.
Leia todas as colunas de Marta Sfredo
Leia mais notícias de Economia