Depois da surpresa com o alcance do voto não no plebiscito de domingo, desdobramentos igualmente inesperados acentuaram o papel da Grécia nesse delicado momento político e econômico que pode se desequilibrar a qualquer momento. Desafiaram o senso comum tanto a renúncia do ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, espécie de popstar na Grécia, quanto o comportamento relativamente contido das bolsas, que tiveram perdas em todo o mundo, mas longe do derretimento que se temia.
O afastamento de Varoufakis, um dos mais radicais integrantes da coalizão de esquerda que governa a Grécia, ajudou a consolidar, para o mercado, o discurso do primeiro-ministro, Alexis Tsipras, de que o país não quer se afastar da Europa e da moeda única. Quer apenas condições mais aceitáveis com as quais possa se comprometer sem aprofundar a crise. Essa posição será testada nesta terça-feira, em reunião de chefes de Estado dos 19 países que adotam o euro, em Bruxelas. Tsipras levará uma nova proposta - que não teve conteúdo antecipado pelo governo.
A vitória do não provocou uma reunião de emergência dos principais "sócios" do grupo, Alemanha e França. Mesmo com palavras duras, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, garantiram que ainda é possível obter um acordo que restaure parte da estabilidade perdida da Grécia. Os gregos veem Hollande como potencial aliado, mas sabem que a palavra final será da Alemanha.
- Temos muito pouco tempo. Precisamos que as propostas da Grécia cheguem à mesa - afirmou Merkel na reunião em Paris.
- Neste momento, cabe a Tsipras fazer propostas sérias, com credibilidade - disse Hollande.
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Agora, as tratativas são contra o relógio. Nesta segunda, o Banco Central Europeu (BCE) manteve, mas se negou a ampliar o programa de emergência de 89 bilhões de euros, aumentando as exigências de garantias. O programa assegura que os bancos gregos possam fornecer dinheiro a seus clientes. O intenso movimento de saques bancários esvaziou os cofres das instituições, que estão operando sob estritos limites.
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, informou que o organismo está disposto a garantir assistência técnica à Grécia, se receber um pedido, mas não pode oferecer ajuda financeira por conta do calote da semana passada. No dia 30, o país deixou de pagar 1,6 bilhão de euros.
Até mais do que a retirada estratégica de Varoufakis do governo - que deixou a sede do ministério, no centro de Atenas, de moto -, ajudou a suavizar a pressão sobre os mercados a indicação de seu substituto, Euclidis Tsakalotos. Ele era o comandante das negociações do governo grego com os credores institucionais - Comissão Europeia, BCE e FMI - contrário à saída da zona do euro. Sincero, admitiu sentir um certo "medo" de assumir o ministério.
Agenda apertada
Nesta terça: ministros das Finanças da zona do euro se reúnem antes da reunião de emergência de chefes de Estado dos países que usam moeda única.
Na quarta: presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi tem de decidir se aumenta ou reduz a assistência de emergência a bancos gregos. O fim do apoio pode desencadear a saída da zona do euro.
Dia 13: A liberação de um novo resgate de 29 bilhões de euros precisará da aprovação do parlamento da Alemanha.
Dia 20: o socorro financeiro tem de estar aprovado para Atenas pagar obrigações de 3,5 bilhões de euros ao BCE.
*Com agências de notícias