Enquanto boa parte do mundo volta atenções para Grécia e o calote aos credores que pode levar o país a abandonar o euro, uma tempestade muito maior pode estar se formando no Oriente. Segunda maior potência do planeta e maior parceira comercial do Brasil, a China enfrenta a desconfiança dos investidores e vê a própria economia dar sinais de ressaca.
Nesta quarta-feira, as bolsas chinesas tiveram a maior queda no preço das ações em 20 anos. Investidores colocaram milhares de papéis de empresas chinesas à venda, e o excesso de oferta fez o valor das ações despencarem. Depois de cair 8% durante o dia (madrugada de terça para quarta-feira no Brasil), a Bolsa de Xangai fechou em baixa de 5,9%, em um clima de preocupação, apesar das medidas das autoridades chinesas para conter a situação.
Venda em massa de ações na China derruba bolsas asiáticas
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Para tentar evitar uma fuga ainda maior de capitais, o governo acelerou a compra de papéis corporativos com intuito de elevar o preço. Quando percebeu que a estratégia não surtiu efeito, suspendeu as operações das bolsas de Xangai e de Shenzhen. O banco central informou que garantiria recursos para o sistema financeiro.
Para especialistas, a turbulência asiática é reflexo da apreensão dos investidores chineses sobre a existência de uma bolha no mercado de ações do país. As dúvidas são a respeito da dimensão do problema.
- Diferente de outros mercados, a bolsa chinesa ainda é muito fechada, com investidores locais. É difícil entender a lógica oriental a partir de uma perspectiva ocidental capitalista. Mas vejo sinais de bolha: valorização excessiva de papéis, grande número de empresas abrindo capital e alavancagem financeira - afirma Valter Bianchi Filho, diretor de risco da gestora de patrimônio Fundamenta.
O que motivou queda tão expressiva ainda é desconhecido. Ao que tudo indica, o estouro de tal bolha pode ter sido causado pelo próprio governo chinês, que, na semana passada, reduziu a oferta dos bancos públicos nos financiamentos de margem - o uso de dinheiro emprestado para comprar ações. Houve forte retração na semana passada, que foi chamada de "sexta-feira negra" no país. Companhias listadas em bolsa na China já perderam cerca de US$ 3 trilhões em valor depois desse movimento.
O efeito desta quarta-feira foi sentido em várias partes do mundo. O preço da tonelada do minério de ferro caiu 11%. A queda impacta no Brasil, segundo maior exportador do produto no mundo. A Bovespa caiu 1,07%, e o dólar avançou 1,61%, para R$ 3,2338, maior valor desde 27 de março.
Apesar da surpresa com o solavanco, quem acompanha o mercado chinês de perto já via fumaça vinda do Oriente. No último ano, enquanto o mercado de ações no país vivia um estado de euforia, com altas recordes, a economia chinesa dava sinais claros de desaceleração.
- Havia um descolamento da realidade - afirma Paulo Figueiredo, diretor de operações da assessoria de investimentos FN Capital.