A forma do decreto que estabelece condições para renovação das concessões de distribuição de energia indica que está aberto um novo projeto de privatizações no setor no país, avalia Sergio Dias, ex-presidente da CEEE. O profissional, que já representou a Eletrobras na diretoria da estatal e chegou a montar um plano de ajuste para a empresa - que não seguiu adiante no governo Tarso -, pondera que a lógica das regras indica esse caminho. Se a concessionária não atingir as metas no primeiro ano, obriga o acionista majoritário a injetar recursos na empresa.
Como o governo do Estado está em séria crise financeira, essa é uma hipótese muito improvável. Se descumprir os objetivos no segundo ano, a empresa só evita a perda da concessão se fizer uma negociação direta para transferir o controle da empresa. Ou seja, seria uma espécie de "privatização privada". E haveria interessados? Dias avalia que sim, especialmente entre empresas que já atuam no Brasil - apesar de todos os percalços.
O que intriga é que fim levaram cerca de R$ 1 bilhão "sobrados" da dívida paga pela União à CEEE, de mais de R$ 3 bilhões, em janeiro de 2012. O restante teria sido aplicado em investimentos para tentar dar mais rentabilidade à empresa. A recuperação desse valor deveria ter sido a redenção da empresa. Entre as poucas propostas que o atual presidente da companhia, Paulo de Tarso Pinheiro Machado, adianta sobre a tentativa de manter a CEEE no negócio de distribuição é a venda da sede, na Rua Joaquim Porto Vilanova, a poucos metros da Avenida Ipiranga. Mas até vender ativos é difícil, nesse momento.
Nas entrelinhas do discurso de Pinheiro Machado, são visíveis sinais de enxugamento de pessoal - ele fala em "readequação". Entre 2014 e 2016, 1,5 mil dos 4,3 mil funcionários estariam em condições de se aposentar. Seria uma alternativa para enxugar gastos, mas não seria a salvação. Engenheiros em fim de carreira na CEEE recebem entre R$ 20 mil e R$ 25 mil - há casos de contracheques de R$ 30 mil.