Líderes europeus, de países e representantes das diversas instâncias de representação da União Europeia e da zona do euro passaram o dia ontem dizendo que lutarão para manter os 19 mas sobreviverão se forem apenas 18 os países que usam a primeira experiência de moeda transnacional do planeta. O euro pode sobreviver sem a Grécia, mas a pergunta que inquieta analistas ao redor do globo é: a que preço?
Nesta terça-feira, deve se confirmar o não pagamento dos US$ 1,6 bilhão que a Grécia teria de quitar ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Mesmo se houver inadimplência (default), não significa a saída imediata do país da zona do euro. As primeiras consequências devem ser a suspensão do Eurogrupo (conselho que indica os rumos da zona do euro) e do conselho do Banco Central Europeu, que executa a política monetária comum. Depois haverá longa discussão sobre o rito da saída.
É quase inevitável comparar a diferença dos exércitos econômicos da Grécia e da Europa unida pela moeda com outra batalha histórica pelo desequilíbrio de forças, a das Termópilas. Foi popularizada pela graphic novel Os 300 de Esparta, que depois virou filme e ganhou sequência. Em 480 a.C., 300 guerreiros espartanos comandados por Leônidas lutaram até a morte para frear os persas de Xerxes. Foram dizimados depois de resistência heroica. Parece ser o relato de um fracasso. Mas o atraso e as baixas sofridas pelos persas provocaram a vitória final dos gregos um ano depois.
Os cerca de US$ 242 bilhões do PIB grego em 2013 (dado mais recente no ranking do Banco Mundial) dão ao país o 43º lugar e equivalem a cerca de 10% do PIB do Brasil. A economia, portanto, pode ser considerada pequena. Analistas não veem a Grécia 2015 como o Lehman Brothers 2008. A quebra da Grécia não arrastaria o planeta para a recessão pelo estrangulamento do crédito, como ocorreu na década passada. Mas é imponderável o impacto de um evento sem precedentes: a saída de um país, com reintrodução da moeda nacional, do clube formado para criar um rival ao dólar. São esses efeitos - como os das Termópilas sobre Xerxes - que preocupam.
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