O mau tempo lá fora não é só efeito do inverno. Raios e trovões são tão evidentes que não escapam dos registros oficiais, como fez nesta quarta-feira o Banco Central em seu Relatório Trimestral de Inflação, que projetou queda de 1,1% no PIB e inflação de 9% em 2015. Com oscilações não muito grandes, era o que previa a meteorologia econômica desde o final do ano passado.
O cumulus nimbus mais ameaçador, a perda do grau de investimento na nota de risco do Brasil, foi desviado ao menos até 2016. Assim, dá para enfrentar melhor a temida pancada da elevação do juro nos EUA, previsto para este ano.
Nova previsão do Banco Central aponta retração de 1,1% do PIB e inflação em 9% em 2015
Agora que parte da "tempestade perfeita" desabou e outra parte se dissipou, a principal atividade de quem projeta o futuro é olhar para baixo. Objetivo: ver se aparece o fundo do poço, o ponto em que a situação para de piorar.
Como não há detectores de fundo de poço no mercado, as projeções divergem. Para alguns, estaríamos bem perto de tocar no limite entre julho e agosto. Outros preveem que o aprofundamento da crise siga até o terceiro trimestre. Só melhoraria com o final do ano, na tradicional volta às compras inspirada pelo Natal e o Ano-Novo.
O problema é que há forças cavando um porão no poço, como mostrou nesta quarta a Câmara dos Deputados ao aprovar reajuste de todos os benefícios previdenciários acima da inflação. Óbvio que a medida seria meritória, porque a política atual reduz o poder de compra dos aposentados, mas aprová-la nesse momento equivale a terrorismo legislativo, manobra demagógica para desgastar a já puída imagem do governo. E criticar a irresponsabilidade fiscal da Câmara não é defender o Planalto, mas querer que o fundo do poço apareça.