Marta Sfredo: a terceirização vista pelo cinema

No ano mais quente para discussões sobre o universo do trabalho no Brasil, o feriado caiu numa sexta-feira e desinflou o interesse no tema. Nunca antes, na última década, o futuro do mercado esteve tão incerto, seja por decorrência da crise econômica, seja pela súbita retirada da gaveta de um projeto de terceirização que dormitava no Congresso Nacional há mais de uma década.

Sobre o projeto de terceirização, é importante observar que a polêmica não opõe, de forma simplista, empregadores e empregados. Há representantes de trabalhadores - caso da Força Sindical, por exemplo - favoráveis, sob o argumento de que a regulamentação vai dar garantias aos trabalhadores já terceirizados. Outras centrais, como a CUT, são contrárias, ponderando que haverá perda de direitos e redução de salários.

É curioso, ainda, que haja empresas cujos líderes são ardorosos defensores da regulamentação mas praticam o inverso, a chamada "internalização" - contratam equipes antes terceirizadas ou levam para dentro da empresa mão de obra que poderia ser prestadora de serviços. Um curioso filme de 2006 chamado Outsourced (em tradução literal, Terceirizado), que no Brasil - para variar - ganhou o discutível título Despachado para a Índia discute os efeitos e o alcance da terceirização internacional. Um executivo da fria e chuvosa Seattle é comunicado que todo trabalho de seu departamento será terceirizado e feito na Índia, e para não perder benefícios é mandado para comandar o trabalho. Se tem estereótipos americanos e indianos, o filme também toca em pontos interessantes, e ganhou até uma sequência em série de TV, mas também rende diversão e reflexão, especialmente sobre desdobramentos futuros do processo (o filme é antigo, mas nem por isso haverá spoilers, leitores!).

Mais interessante é que o filme se tornou material de treinamento - com apoio técnico de professores da Michigan State Business School -, de liderança, mudança de cultura empresarial e comunicação multicultural.