A compra, por um valor equivalente a mais de R$ 200 bilhões, da britânica BG (de British Gas) pela Shell inscreve o negócio entre os maiores da história recente e retoma parte das expectativas em torno do petróleo da camada pré-sal. Os anúncios sobre a riqueza potencial, a partir de 2007, foram cercados de críticas porque prometiam o paraíso na orla, mas havia sete quilômetros de água salgada e rocha no caminho, além do obstáculo financeiro escancarado pela crise da Petrobras.
Entre o peso de salvador da pátria e o estigma de descoberta superavaliada, o pré-sal começa a reencontrar seu real tamanho com o negócio. O britânico Financial Times, que não hesita em expor mazelas do Brasil, avaliou nesta quarta-feira, sobre a aquisição: Brasil é o grande prêmio para a Shell no acordo da BG.
É uma virada da estratégia no país da segunda maior empresa de petróleo do mundo. Em 2011, havia vendido fatias em blocos na Bacia de Santos para empresas brasileiras, lembra Marcos Tavares, diretor da Gás Energy. A empresa criada como estatal e privatizada pela ex-primeira-ministra Margareth Thatcher tem cerca de 25% das reservas licitadas no pré-sal. A BG não tem relação com outra britânica poderosa, a BP (de British Petroleum).
- Comprar a BG é comprar o Brasil - resume.
Crítico do atual modelo de exploração, o ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo David Zylbersztajn identifica aspectos positivos para o Brasil na operação, até por ter agora uma empresa mais robusta na produção do pré-sal. É uma iniciativa concreta - não uma intenção ou simples manifestação - que demonstra interesse no futuro do Brasil. A queda na cotação do barril de petróleo, de quase 50% em poucos meses, facilitou a compra. Tornou os ativos da BG mais baratos para a Shell. A valorização do dólar frente ao real deixou o investimento na exploração do pré-sal no Brasil menos pesado. Mas não se pode dizer que seja apenas um "negócio de ocasião", seja pelo valor ou pela complexidade de seu objeto.
E abre uma janela para reexaminar o papel onipresente da Petrobras no pré-sal - pela legislação, a estatal é operadora exclusiva dos próximos blocos a serem explorados. A questão é polêmica, mas precisa ser discutida. E a hora do debate é agora. Antes que seja tarde.