Quem conhece os dutos de poder da Petrobras identifica grande mudança nos rumos da empresa. Os sinais são colhidos na farta produção de informações sobre o que estaria no pacote de fatias da estatal que será oferecido ao mercado. O recado é que daqui para a frente, tudo vai ser diferente.
Por trás dos balões de ensaio que ora mencionam a possibilidade de venda da Braskem - considerada por especialistas como um ativo com liquidez incerta, para dizer o mínimo - ora acenam com nacos do apetitoso pré-sal, para em seguida negar a informação, estaria a firme decisão de não fazer tudo, ambição que teria ficado no passado. Não há outra escolha para uma empresa com dívida deste tamanho - R$ 261,45 bilhões no balanço não auditado do terceiro trimestre de 2014.
Mas dentro e fora da Petrobras, há controvérsias entre o que deveria entrar e o que teria de ficar fora do pacote de ofertas ao mercado. Até nacionalistas fervorosos como Haroldo Lima, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) filiado ao PC do B, admite que tudo pode ser discutido, mas aponta duas exceções: o pré-sal e a rede de postos. Ao contrário de outros analistas, pondera que a BR é o "caixa" da Petrobras.
- É da rede de postos que vem o dinheiro para remunerar o principal produto da empresa, que é a gasolina - argumenta.
O que Lima diz não entender é que, se os ativos serão colocados à venda para permitir à estatal manter o investimento no pré-sal, como blocos localizados nessa área tão promissora seriam passados adiante. Pela lei atual, a Petrobras teria direito de vender áreas nas quais têm concessão, obtida com base na Lei do Petróleo de 1998. Só não pode se desfazer de Libra, submetido à nova lei que instituiu o modelo de partilha no final de 2010.
No dia 22 - a coincidência com a data de descobrimento do Brasil será mera coincidência? -, parte das dúvidas sobre a empresa deve ser resolvida com a publicação do balanço auditado do terceiro trimestre de 2014, que deve conter a estimativa de perdas com corrupção.
Ontem, foi atribuída ao desmentido sobre a inclusão do pré-sal a queda nas ações da Petrobras. Mas mesmo com o recuo, a estatal acumula alta de 61% (nas ações ordinárias, que dão direito a voto) e de 56% (nas preferenciais, que ganham dividendos antes) desde o mínimo registrado em maio.