A escalada do dólar, em meio às incertezas políticas, ao péssimo momento da economia e à crescente expectativa de aumento dos juros nos Estados Unidos, não perdeu força na volta do fim de semana - pelo contrário. Repercutindo a lista com o nome de políticos suspeitos de envolvimento na Lava-Jato, revelada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na última sexta-feira, e o discurso da presidente Dilma Rousseff, no domingo, a moeda americana fechou em alta pelo sexto dia consecutivo, cotada a R$ 3,1297 (maior valor desde junho de 2004), valorização de 2,39% ante o real.
Desde a última segunda-feira - quando se iniciou a atual sequência -, o dólar já acumula alta de quese 10% ante a moeda brasileira. No ano, a valorização chega a 17%.
Além da piora da economia - na pesquisa Focus dessa semana, o mercado reduziu pela décima vez seguida a previsão para o PIB -, o clima de apreensão entre os investidores foi reforçado após a divulgação da lista de suspeitos de envolvimento no esquema da Petrobras. A presença de dezenas de parlamentares da base aliada do governo aumenta a tensão política no Congresso Nacional. A percepção de analistas é de que, com o clima instável, ficará mais difícil para a presidente Dilma Rousseff aprovar medidas de ajuste fiscal necessárias para colocar as contas públicas em ordem e recuperar a credibilidade do país diante dos investidores.
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Na semana passada, o mercado teve um exemplo dos problemas que a crise política pode acarretar no cenário econômico quando o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), devolveu uma proposta que prevê a redução da desoneração da folha de pagamentos a partir de junho. Nos bastidores, a decisão foi encarada como uma retaliação por conta do vazamento de seu nome na lista de políticos investigados pela Lava-Jato.
Outro fator que pesou para a disparada do dólar foi a repercussão do discurso realizado pela presidente Dilma Rousseff em rede nacional. Dilma atribuiu o momento econômico ruim à crise internacional e à falta de chuva, além de defender o ajuste fiscal e pedir paciência à população. Enquanto isso, pelo menos 12 cidades do país - incluindo Porto Alegre - registraram "panelaços" em protesto à fala da presidente.
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O reflexo internacional
No cenário externo, a expectativa de que os Estados Unidos voltem a elevar suas taxas de juros - em patamares muito baixos desde o agravamento crise internacional - ajuda a pressionar o câmbio no Brasil e em outras economias emergentes. Na última sexta-feira, o governo americano anunciou que criou quase 300 mil postos de trabalho em fevereiro e reduziu para 5,5% a taxa de desemprego no país numa forte sinalização de recuperação do mercado de trabalho. Analistas do mercado financeiro projetam que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) deva elevar os juros já em junho.