Apesar de pequena, a queda reforça a necessidade de ajustes na economia neste ano, afirmam especialistas. Corrigir as causas que levaram ao resultado ruim, no entanto, podem levar o Brasil a ter de enfrentar um recuo ainda mais forte em 2015. Isso porque não bastasse o desafio de retomar a confiança do empresariado para voltar a investir e fazer a economia crescer, o Planalto enfrenta também outros obstáculos, como falta de água em São Paulo, aumento no custo de energia e crise na Petrobras.
Depois dos indicadores de produção industrial e vendas no comércio, na quinta-feira foi a vez de o Banco Central confirmar que 2014 foi um ano negativo para a economia brasileira. O IBC-Br, índice que calcula a atividade e é visto como precursor do Produto Interno Bruto (PIB), apontou que o país encolheu 0,15% no ano passado.
Os números definitivos sobre a variação da renda e a produção nacional serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 27 de março, mas os cálculos do BC reforçam a expectativa de resultado negativo.
Em evento com empresários do varejo nesta quinta-feira, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que a retomada do crescimento virá com apoio da iniciativa privada. No encontro, explicou as medidas de ajuste, como corte de gastos e aumentos de tributos, adotadas pelo governo, e destacou que o reequilíbrio fiscal e a solidez das contas públicas são imprescindíveis para o desenvolvimento do ambiente de negócios e a recuperação da confiança dos empresários.
Para isso, o Palácio do Planalto terá de conseguir derrubar a resistência de parte da base aliada no Congresso, que torce o nariz para a adoção de medidas como restrição a benefícios trabalhistas e previdenciários e, inclusive, vê traição ao discurso adotado pela presidente Dilma Rousseff durante a campanha eleitoral. A falta de apoio, especialmente na Câmara, preocupa analistas, que celebram as intenções de Levy, mas têm dúvidas da capacidade do ministro e do governo de aplicar as medidas.
- A entrada de Levy representa a adoção de um discurso mais realista, o que é um ganho. Mas, por si só, não reconquista a confiança. Entre o discurso e a prática há um longo caminho a ser percorrido. Persuadir os deputados pode ser tão complicado quanto convencer a presidente Dilma - avalia João Ricardo Costa Filho, analista da consultoria Pezco Mycroanalysis, que projeta recuo de 0,9% no PIB deste ano.
Estimativa feita pela Rosenberg Associados segue caminho semelhante. A consultoria projeta queda de 0,7% para a atividade econômica em 2015.
- A escassez de água e de energia devem deprimir o PIB em 2015. E podemos revisar a projeção do PIB, para pior, se a crise se agravar - afirma Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados.
Entre os possíveis recuos nas medidas de ajuste que podem ser aceitos por Dilma na negociação com o Congresso está a suavização na proposta de mudanças nas regras do seguro-desemprego. Após apresentar projeto que endurece o acesso ao benefício, o governo voltou atrás e prometeu ouvir as centrais sindicais por temer não conseguir aprovar a medida provisória. Outra amostra da dificuldade foi a aprovação do orçamento impositivo, que obriga o Executivo a bancar as emendas individuais dos parlamentares.
- Um governo enfraquecido politicamente tem mais dificuldade em implantar medidas de contenção de gastos. Por enquanto, o ministro Levy é o fiador do novo mandato. Mas se for reiteradamente derrotado no Legislativo, a confiança acaba. Os próximos meses vão ditar o tom dos próximos quatro anos, porque se a correção não vier agora, não virá mais - avalia Roberto Elerry, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB).
O economista ressalta também que o desempenho fraco da atividade econômica por mais um ano pode acabar refletindo na taxa de desemprego, que tem se mantido baixa até agora e se tornou a principal conquista econômica do governo Dilma.
- A geração de vagas caiu drasticamente. Com a entrada de menos pessoas no mercado de trabalho, o índice de desemprego não cresceu, mas isso foi mais sorte do que juízo. Setores importantes, como o automobilístico, já começaram a demitir - lembra.