A maior interessada de que o projeto do polo do Jacuí não naufrague é a Petrobras, que tem prazos rígidos para colocar as novas plataformas em operação e elevar a produção de óleo e gás. Lentidão em Charqueadas impactaria em cascata os projetos da companhia - integrar os módulos aos cascos construídos pela Ecovix em Rio Grande e a montagem final.
Para reduzir o risco de atraso e o reflexo que terá nos projetos, a opção é a entrada de um sócio na Iesa, negociação conduzida pela estatal, que definiu prazo de dois meses para resolver todo o caso do polo naval do Jacuí.
Uma das cotadas seria a construtora Andrade Gutierrez, que ainda não atua na área de óleo e gás, mas também se fala na UTC e na Odebrecht. A UTC foi uma das empresas que chegou a ser cogitada para receber parte das encomendas dos módulos da Iesa, trabalho que seria feito no Rio de Janeiro.
O projeto local envolve a produção de módulos que serão instalados nos cascos conhecidos como replicantes - feitos em série. São oito plataformas para retirar, estocar e transferir óleo e gás de águas ultraprofundas, onde está o pré-sal. Procuradas, Iesa e Andrade Gutierrez preferiram não se manifestar.
A carta e a reunião
Primeiro, o governador Tarso Genro encaminhou uma carta à presidência da Petrobras expressando preocupação e alertando sobre as consequências negativas para o Estado se o polo naval do Jacuí naufragasse com a crise da Iesa. Depois, o vice-governador Beto Grill esteve na estatal, no Rio, para analisar uma solução que garanta a produção dos módulos para plataformas de petróleo aqui. Os executivos, conforme relatos do vice, "mostraram-se solidários à posição do governador".
- Estamos mais tranquilos, houve avanço no caso e as encomendas só não ficarão todas aqui se o calendário se mostrar inviável. Mas com a entrada de um sócio no projeto da Iesa, crescem as chances de o polo se viabilizar - diz Grill.
Sobre a crítica de que a criação do segundo polo teria sido uma decisão "política", quando o esforço deveria se concentrar em Rio Grande, afirma que a intenção foi aproveitar o potencial da mão de obra local, como a da indústria metalmecânica, enquanto no sul do Estado já está "escassa".
- A opção não foi pela alegação de que não há mais área disponível em Rio Grande. A questão do polo é maior: deixou de ser geográfico para ser de desenvolvimento do Estado.
Cidade se mobiliza
Se até sexta-feira os funcionários e os fornecedores da Iesa, como parte do comércio de Charqueadas, não receberem os pagamentos devidos pela companhia, o município e os vizinhos da região prometem uma grande mobilização para alertar sobre a necessidade de resolver a situação do polo do Jacuí.
Em crise, a companhia está com o projeto de fornecimento de equipamentos à Petrobras atrasado - venceu concorrência para entregar 24 módulos para plataformas de petróleo, por cerca de US$ 800 milhões. O primeiro lote deve ser entregue na metade do ano.
- A exemplo da manifestação que fizemos no Piratini para cobrar as licenças para o polo, agora poderemos fazer outra se a situação não for solucionada. Mas, primeiro, vamos dar crédito ao diretor (da Petrobras) José Figueiredo, que nos assegurou o interesse de resolver o caso, com parte das encomendas ficando aqui no polo. Existe, inclusive, a expectativa de que o depósito dos atrasados seja feito nesta terça-feira - disse o prefeito de Charqueadas, Davi Gilmar Souza.
Apesar da confiança de Souza, a situação do polo não é das melhores. Inicialmente, cinco empresas deveriam se instalar no local: Iesa, Metasa, Tomé Engenharia, UTC e Engecampo. Por enquanto, só andaram os projetos de Iesa e Metasa. A UTC e a Tomé tiveram área de 40 hectares desapropriada pela prefeitura, mas, até agora, não fizeram nada. Têm até abril de 2015 para operar. A Engecampo não procurou a prefeitura, negociou direto com o proprietário da área. Mas a obra não evoluiu.
Sangue doce
O governo gaúcho vê com apreensão a crise do recém-criado polo naval do Jacuí, mas confia que a questão é "temporária, de ajustes" e será resolvida. Embora não tenha revelado o valor do empréstimo para a Iesa sob a alegação de sigilo bancário, o presidente do Badesul, Marcelo Lopes, diz que a situação é "tranquila", pois a empresa já investiu mais de R$ 100 milhões em Charqueadas, no píer e nas oficinas, "bem mais do que o nosso financiamento":
- A Iesa tem R$ 2,1 bilhões em contratos com a Petrobras, não só aqui, como em outros Estados. Estamos de sangue doce. O polo do Jacuí dará grandes alegrias ao Estado.
Grande angústia
Com a crise, 600 pessoas estão com emprego ameaçado. Por orientação da Petrobras, paralisaram as obras quarta-feira, já que estão com salários atrasados. A esperança é de que o pagamento saia nesta semana, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Jorge Carvalho. A criação da conta vinculada - pagamentos definidos junto com a Petrobras - pode ser positiva:
- A Iesa não cumpre nada. O repasse mensal da Petrobras era usado para tudo, menos para pagar colaboradores, que hoje se reunirão em assembleia.