Diante de um cenário composto por pressão da inflação e desaquecimento da atividade econômica, o Banco Central (BC) reduziu a intensidade de alta do juro básico da economia. O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou, nesta quarta-feira, a taxa Selic pela oitava vez seguida, de 10,5% para 10,75% ao ano.
Com a mudança de ritmo nos aumentos, especialistas buscam sinais do BC de que o ciclo da alta de juros pode estar próximo do final. Desde que voltou a elevar a Selic, em abril do ano passado, o BC fez seis correções de 0,5 ponto percentual e uma de 0,25, o que recolocou a taxa no patamar de dois dígitos após dois anos. Conforme economistas, a inflação começa a caminhar para o nível almejado pelo governo, o que pode sinalizar que a Selic pode estar próxima da estabilidade.
- A alta nos juros já impacta a produção da indústria e abala a confiança do consumidor. O governo sabe que altas mais ousadas podem inibir ainda mais a economia - avalia Sílvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria.
Conforme Campos, o câmbio mais favorável às importações nas últimas semanas reduz a pressão sobre o IPCA, índice oficial de inflação, e indica que a alta de preços ficará abaixo do teto da meta (6,5%) em 2014.
- O governo já sinalizou que sua preocupação é não romper o teto, e não necessariamente trazer o IPCA ao centro da meta (4,5%). Nessa linha, acreditamos que as próximas reuniões do BC manterão a taxa estável - afirma.
Opção de atacar inflação com mais força
Uma das preocupações do governo é não resfriar ainda mais a economia, cuja projeção para este ano é pouco animadora. Na semana passada, o Planalto revisou a perspectiva para o Produto Interno Bruto (PIB) de 3,8% para 2,5% neste ano, mais próxima do que espera o mercado financeiro, 1,67%.
Parte dos analistas entende que o BC ainda tem espaço para subir o juro. Conforme Rogério Mori, especialista em juros da Fundação Getulio Vargas em São Paulo, a inflação deveria ser atacada com mais força neste momento, para mostrar comprometimento com a estabilidade de preços. O especialista projeta que há espaço para que a Selic termine o ano em 11,25%.
- O PIB neste ano já está sacrificado. Seria mais interessante o BC atacar a inflação com força, preparando-se para pressões de preços como gasolina e tarifas públicas que vêm por aí. Isso daria condições ao país para crescer em 2015 - analisa Mori.
Mesmo com um possível resfriamento nas correções da Selic, o juro real (descontando a inflação) se aproxima do nível de fevereiro de 2012 (4,96%). Vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira explica que o impacto ao consumidor ocorre principalmente em empréstimos pessoais e operações de financiamento, e que a economia já está patinando em razão da política monetária:
- Isoladamente, uma nova correção da Selic passa despercebida pelo consumidor. Mas, olhando um horizonte mais longo, vemos que os juros nos bancos e no comércio vêm subindo há mais de um ano, acompanhando a Selic.
Entidades empresariais criticam alta
Logo após o anúncio do Banco Central, entidades empresariais da indústria e do comércio divulgaram notas criticando a nova alta da Selic. Em comunicado, tanto a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) quanto a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) afirmaram que o aumento do juro não pode ser visto como a única solução para combater a inflação.
Para o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior, "o controle inflacionário precisa ser realizado, prioritariamente, por meio de um amplo ajuste fiscal na máquina pública, com cortes de gastos de custeio do governo e desoneração dos setores produtivos." O presidente da Fiergs, Heitor José Müller, seguiu na mesma linha e afirmou que é "necessário um alinhamento maior entre as políticas fiscal e monetária".
VÍDEO: entanda a relação entre o juro e a inflação