Cinco empresas japonesas lideradas pela Mitsubishi Heavy Industries (MHI) compraram 30% da Ecovix, negócio estimado em US$ 300 milhões. No polo naval de Rio Grande os ânimos estão acirrados. Enquanto no estaleiro da Quip há uma greve de funcionários, ao lado, no Estaleiro Rio Grande (ERG) e Rio Grande 2 (ERG2), onde funciona a Ecovix, paira dúvida sobre o impacto do acordo com os japoneses. O maior medo do sindicato é de que a mão de obra japonesa substitua a brasileira. No mesmo local, 55 chineses trabalham desde outubro para reforçar a soldagem, atividade crítica na montagem de plataformas.
- Se vierem japoneses, têm de ensinar os brasileiros, e não ficarem isolados como os chineses hoje - critica o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Rio Grande, Sadi Machado.
Presidente da Ecovix, Gerson de Mello Almada afirma que haverá, sim, intercâmbio. Em troca dos 15 japoneses que chegam ao Rio Grande do Sul, 15 brasileiros devem ir ao Japão. Essa é só uma das mudanças com a nova parceria. Almada também revela que a Mitsubishi terá direito de escolher o diretor do estaleiro. Com tecnologia japonesa, as entregas devem ser mais rápidas. A empresa tem uma encomenda da Petrobras de oito cascos flutuantes - alguns já em atraso. Almada afirma que a compra pelo consórcio não ocorreu por necessidade de capital, mas da urgência em aumentar a produtividade. A seguir, leia entrevista concedida ontem.
Zero Hora - O que determinou o negócio entre os japoneses e a Ecovix?
Gerson de Mello Almada - A necessidade é dividida em duas partes. Primeiro, a nossa visão brasileira, o desafio do pré-sal é muito grande e a indústria naval brasileira ficou parada durante muitos anos, então nessa retomada tem um gap e é importante de se cresça porque senão tem que reconstruir tudo. Com isso, nós saímos a conversar com parceiros estratégicos. O problema não é financeiro, não é nada, mas é que precisávamos de pessoas que nos ajudassem a produzir melhor. Do ponto de vista japonês, o que eles veem? Um mercado deles que está diminuindo, que tem conteúdo nacional, então eles procuraram uma firma que desse todas as condições de progredir rapidamente. E aí foi possível se juntar.
ZH - O que muda na prática?
Almada - A Mitsubishi vai trazer procedimentos e tecnologia. Essa transferência de conhecimento vai ser em vários níveis e várias formas. Primeiro, eles terão direito de indicar um diretor, que será o diretor do estaleiro. Segundo, nós estamos fazendo um intercâmbio de profissionais. Estão indo profissionais brasileiros para o Japão e japoneses estão vindo para o Brasil. Esse processo deve durar um ano, mais ou menos. São 15 trabalhadores japoneses que chegam e 15 brasileiros que vão. E eles vão atuar na melhoria de produtividade e na implementação de procedimentos, de várias áreas: montagem, pintura, planejamento. São pessoas em pontos-chave de aperfeiçoamento da produção.
ZH - Com esse convênio, já se vislumbra alguma mudança em curto prazo?
Almada - O objetivo é que a gente aumente a produtividade em curto prazo.
ZH - Isso significa diminuir o tempo de construção dos cascos chamados de replicantes?
Almada - É, exatamente.
ZH - De quanto para quanto?
Almada - Isso ainda não temos como saber.
ZH - E essa transferência de conhecimento, o senhor acredita que poderá impactar na forma como os brasileiros atuam na produção naval?
Almada - Claro que sim. E espero que isso venha a melhorar. Quer dizer, como eles estão vindo, como sócios de uma empresa, eles não estão apenas emprestando mão de obra ou transferindo tecnologia. Os japoneses estão no capital de risco da empresa, e, sendo capital de risco, qualquer um deles vai querer ter uma empresa ainda mais produtiva.