Depois de suspender os pagamentos a fornecedores e autorizar uma ação no Supremo Tribunal Federal que pede a derrubada de toda a lei dos royalties do petróleo, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), usou o horário gratuito do PMDB na TV para anunciar que irá até o fim na defesa dos recursos do Estado. Em inserção de 30 segundos exibida na noite de sábado (09), o governador disse que "o que é do Rio tem que continuar do Rio".
Com a derrubada, pelo Congresso Nacional, do veto da presidente Dilma Rousseff ao trecho da lei que tratava da distribuição dos royalties, o Estado e municípios fluminenses perderão R$ 75 bilhões até 2020.
- É justamente no momento em que o Rio se fortalece que querem tirar do nosso Estado um direito que é de todos nós: os royalties do petróleo. Eu quero dizer a você que vamos lutar até o fim - disse Cabral no espaço do PMDB nacional, cedido ao partido no Rio.
O prefeito Eduardo Paes e o vice-governador Luiz Fernando Pezão, pré-candidato à sucessão de Cabral, também defenderam os royalties do Rio em inserções do PMDB.
- Já fui prefeito, hoje sou vice-governador. Sei como os recursos dos royalties são importantes para o nosso povo. Vamos lutar pelo que é nosso. O que é do Rio tem que ser respeitado - disse Pezão na TV.
A derrubada do veto da presidente Dilma acontece em um momento de extrema tensão entre o PMDB e o PT do Rio por causa da sucessão de Cabral. O PMDB fluminense exige que o senador petista Lindbergh Farias desista da pré-candidatura ao governo e apoie Pezão. Se isso não acontecer, os peemedebistas do Rio ameaçam retirar o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Cabral e o prefeito Eduardo Paes (PMDB) se queixaram de Lindbergh ao ex-presidente Lula. Os peemedebistas contam com Lula para convencer o senador a desistir mais uma vez da disputa, como fez em 2010.
Com o futuro dos recursos dos royalties incerto, até que o STF julgue as ações de inconstitucionalidade dos governos do Rio, do Espírito Santo e de São Paulo, o quadro eleitoral no Rio segue em clima de confronto entre PT e PMDB. Apesar da excelente relação de Cabral com Dilma e Lula, aliados do governador reclamam que o governo federal não agiu no Congresso para evitar a queda do veto da presidente. Lembram que, desde 2009, quando foi discutido o marco regulatório do petróleo, o então presidente Lula prometia a Cabral que o Rio não teria perdas, mas deixou que mudanças na regra da partilha avançassem.
No governo Dilma, a queixa é contra o estilo beligerante de Cabral, que, em vez de negociar, teria confiado na força de atos públicos e da campanha em defesa do Rio que promoveu no último ano. No Congresso, Rio, Espírito Santo e São Paulo ficaram isolados contra 23 Estados e o Distrito Federal. A bancada do Rio age unida contra a mudança nas regras, mas a sintonia na defesa dos recursos dos royalties para o Estado não diminui as divergências políticas.
O PMDB do Rio diz estar confiante na intervenção de Lula para que Lindbergh desista da candidatura, mas a diferença agora é que o senador, ao contrário de 2010, tem apoio do PT nacional e da bancada de deputados federais. Lindbergh diz que não vai desistir desta vez e tem como alternativa, caso seja obrigado a abrir mão da pré-candidatura, trocar o PT pelo PSB do governador de Pernambuco e possível candidato a presidente Eduardo Campos.
Cabral, por sua vez, na hipótese de Lula e o PT nacional continuarem a estimular a pré-candidatura de Lindbergh Farias, cogita deixar o governo em abril do ano que vem e concorrer a uma vaga no Senado, na chapa de Pezão. O vice-governador assumiria o cargo e ganharia visibilidade, enquanto Cabral faria se dedicaria à campanha.