Não há mais dinheiro fácil no mercado. A sentença pode soar fatalista e até óbvia, mas o chavão que ganhou coro entre pequenos investidores nunca fez tanto sentido quanto agora. A taxa básica de juro (Selic) em queda livre, as novas regras da poupança e a bolsa de valores tropeçando entre quedas e pequenos ganhos colocaram os aplicadores em terreno de incertezas.
Acostumado com a tranquilidade da renda fixa - e com uma particular paixão pela poupança -, o investidor cauteloso passou a ver seus ganhos minguarem a cada corte da Selic, à qual são atrelados investimentos como CDB e fundos DI. A caderneta, último porto seguro para se proteger da inflação, foi modificada por novas regras, que limitaram o ganho a 70% do juro básico quando este for igual ou menor que 8,5% ao ano. Para tornar o cenário mais complicado, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de São Paulo, passou parte do ano no vermelho. Antecipando-se ao calendário maia, o mercado conhecia o apocalipse do juro farto.
- O investidor brasileiro se deparou com uma quebra de paradigma em 2012 e precisou repensar sua forma de investir - resume Alessandro Barreto, gestor da Geral Investimentos.
O ano que se encerra marcou o final de uma era na qual havia certeza de ganho sobre a inflação. Para que se tenha ideia da mudança no mercado de investimentos nos últimos anos, que culminou no atual cenário, basta lembrar da economia brasileira ao final de 2003, primeiro ano do governo Lula: a Selic estava na casa dos 16,2% para uma inflação de 8,7%. Sem muito esforço, o investidor encontrava aplicações com retorno real (acima da inflação) de 7,5%. Para o aplicador mais audaz, a Bovespa era um prato farto: subia 95% no ano, dando início a uma trajetória que duraria até 2008. O Brasil de hoje nem parece o mesmo país. Com um perfil de mercado mais próximo ao de nações desenvolvidas, conheceu juros mais civilizados e um mercado financeiro mais equilibrado.
A taxa Selic em 7,25% e a inflação em 5,5% em 12 meses deixaram o ganho real (acima da inflação) da renda fixa em menos de 2% ao ano - e essa diferença muitas vezes acaba corroída por taxas de administração e Imposto de Renda.
- O investidor terá de ficar mais atento para encontrar aplicações que cubram a inflação e ofereçam algum ganho. Conhecer as opções e a hora de migrar investimentos se tornou fundamental - afirma o educador financeiro Edward Claudio Junior, do Instituto Dsop, de São Paulo.
Foi o que fez o empresário gaúcho Paulo Brinkhus. Ao perceber que o CDB e a caderneta de poupança perdiam atratividade, Brinkus levou seus recursos a uma gestora de investimento em busca de opções mais rentáveis. Passou a se aventurar no mercado de capitais e comprou títulos do Tesouro. A cada dois meses, rediscute as opções. A receita vem dando certo: de abril a dezembro, seu patrimônio cresceu 9%.