Executivo que ajuda a definir os rumos da Google na Europa e nos mercados emergentes - incluindo o Brasil - o gaúcho Nelson Mattos tem desafios imensos à frente: posicionar o sistema operacional Android - aplicativo desenvolvido pela Google em conjunto com outras empresas - em um mercado cujas disputas entre fabricantes de smartphones ultrapassam o ambiente mercadológico e chegam aos tribunais, adaptar produtos globais da Google à realidade de países em desenvolvimento e diluir desconfianças de parte dos usuários quanto às políticas de privacidade da gigante da web.
Em passagem por Porto Alegre no último dia 22, onde palestrou no Encontro RBS de Jornalismo e Entretenimento, Mattos conversou com Zero Hora. Confira.
Zero Hora - A decisão da corte americana a favor da Apple em processo envolvendo disputa de patentes com a Samsung afeta o futuro do Android, plataforma usada pela fabricante sul-coreana?
Nelson Mattos - O Android está extremamente bem no mercado. No momento, há 1,3 milhão de aparelhos de Android ativados diariamente. Com a quantidade de Androids que se tem em telefones celulares e tablets é praticamente impossível que a plataforma dê para trás. Existem também muitos desenvolvedores lançando aplicativos para Android, da mesma forma que há para iOS (sistema da Apple).
ZH - A exemplo do que ocorreu com a Samsung, a Google teme algum revés financeiro com processos judiciais por quebra de patentes?
Mattos - A Google não recebe direitos autorais pelo uso do Android, por ser uma plataforma aberta. Pelo fato de não recebermos royalties, mesmo que se tenha um resultado negativo com o processo, é muito difícil que tenhamos um prejuízo financeiro.
ZH - Esse tipo de disputa, assim como a exclusão de YouTube e Google Maps como aplicativos de série do iPhone 5, sinaliza um resfriamento na integração de dispositivos, aplicativos e sistemas operacionais de diferentes empresas?
Mattos - A Apple está obrigando não só a Google, mas todas as empresas de desenvolvimento a utilizarem as interfaces públicas que eles têm. Obviamente, há a vantagem para eles de poderem alterar tudo, com exceção da interface, de maneira muito mais rápida. Isso não significa que determinados aplicativos não vão rodar mais na plataforma, mas vai obrigar todos a usarem exatamente a mesma interface.
ZH - Mas essa postura ameaça o mercado da Google?
Mattos - Eu acho que essas rivalidades são uma imaturidade. Lembramos das brigas que existiam até um tempo entre Microsoft e Apple, onde os produtos de um não rodavam no sistema operacional de outro. Hoje em dia, essas coisas mudaram. Eu acho que a gente vai ver exatamente o mesmo processo ocorrendo com smartphones e tablets. A Apple tem o mesmo interesse que a Google que seus produtos populares rodem em todos os sistemas operacionais.
ZH - Há muita expectativa quanto à chegada dos óculos da Google (dispositivos que terão câmera, microfone, alto-falantes, processador, memória e conexão à internet). Há alguma previsão de lançamento comercial?
Mattos - A pretensão é de colocar mil ou 1,2 mil óculos até o fim do ano no mercado, inicialmente, para quem desenvolve aplicativos. Afinal, a utilidade de um celular ou de um tablet em muito depende dos aplicativos que rodam, e o mesmo ocorre com os óculos.
ZH - Quais são os desafios da Google para os mercados emergentes, como o Brasil?
Mattos - O enfoque é pensar quais outros tipos de produtos ou alterações nos produtos globais podem ser mais apropriados a países emergentes. Na maioria deles, as pessoas usam celulares simples. Não se vê muitos smartphones. Então, é preciso adaptar produtos a telas menores, um potencial inferior. A gente desenvolveu, por exemplo, um sistema que permite receber e-mails no celular como um SMS, que atende aos celulares mais simples.
ZH - A qualidade do 3G no Brasil restringe os planos da Google no país?
Mattos - Existem dois Brasis, o da classe média, com banda larga em casa e smartphones, e da classe média baixa, com celular mais simples. Pelos planos que se vê do governo em investir, que são mais agressivos do que nos mercados desenvolvidos, parece que vai haver melhoras na estrutura. Se a economia continuar da maneira que está, muitas pessoas que não têm smartphones chegarão lá.
ZH - O acesso a dados de usuários é um ativo muito importante. Como a Google está tratando a privacidade dos usuários?
Mattos - É um assunto de bastante investimento. A maior parte da pesquisa de privacidade se dá na Alemanha, que é o país mais conservador do ponto de vista de privacidade. Por isso, esse trabalho é feito em Munique. A estratégia é deixar claro ao usuário quais dados estão sendo coletados, com quais objetivos, como serão utilizados. Então, a ideia é você ter uma visão, entender o que é coletado para ter controle, pois, afinal de contas, os dados são seus.
Novos desafios
Os dois brasis da Google
Segundo Nelson Mattos, empresa quer adaptar produtos globais à realidade de países em desenvolvimento
Erik Farina
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