A compra e venda de ações e títulos públicos por preços fora do padrão de mercado foi um dos motivos que levou o Banco Central (BC) a decretar a liquidação extrajudicial da Corretora Diferencial, com sede em Porto Alegre. As operações irregulares podem ter causado prejuízos a clientes.
Fiscalização do BC também detectou problemas envolvendo o patrimônio. Ao analisar os demonstrativos de março, foi verificada a inclusão R$ 17,2 milhões em ativos já vencidos no patrimônio líquido da corretora. De acordo com analistas de mercado, isso poderia ter como motivação aumentar a solidez fiscal para camuflar problemas na saúde financeira da empresa e evitar possível intervenção.
Considerada uma empresa de médio porte, a Diferencial atua no mercado financeiro desde 1968 e já havia sido notificada mais de uma vez pelo BC por práticas consideradas irregulares na compra e venda de títulos públicos e ações de pouca liquidez. A corretora vinha sendo fiscalizada de perto há mais de um ano.
- Como os problemas eram recorrentes, o BC optou pela intervenção - afirma uma fonte do Banco Central.
Nem todos os clientes da empresa devem ter seus investimentos afetados pela liquidação, uma vez a corretora é apenas mediadora de aplicações, e não responsável pela guarda de recursos ou títulos.
- Em operações com corretoras, o patrimônio permanece em nome do investidor, e não da instituição - explica Nilton d'Avila Farinati, membro-orientador do Instituto Nacional de Investidores.
Para que aplica individualmente (homebrokers) ou em fundos da Diferencial, a opção é migrar os aportes para outras administradoras. Em casos mais específicos, no entanto, poderá haver dificuldades em reaver o investimento (leia quadro). Não há informações sobre o número de clientes da Diferencial.
SAIBA MAIS
Infrações apontadas pelo BC
- Operações com valores fora do padrão de mercado: o BC detectou operações com ações e títulos de pouca liquidez negociados com preços diferentes aos do mercado. A corretora poderia cobrar mais por um título do governo e lucrar com a diferença, por exemplo.
- Comprometimento patrimonial: foi verificada uma inconsistência no patrimônio líquido declarado pela Diferencial em março passado. A corretora incluía ativos já vencidos como ainda válidos, e com isso poderia simular uma saúde financeira que na verdade não tinha.
Consequências
- Com a liquidação extrajudicial, as operações da Diferencial ficam suspensas. O BC indicará um profissional (chamado liquidante) para liderar uma devassa na empresa, conhecendo as receitas e despesas futuras. Os administradores da corretora ficam proibidos temporariamente de operar no mercado de capitais e podem ser processados judicialmente. O patrimônio dos sócios poderá ser vendido para cobrir eventuais prejuízos. Não há prazo para a ação do BC ser concluída.
Clientes afetados
- Investidores que têm títulos em nome da Diferencial serão incluídos na lista de credores. O mesmo vale para clientes que tenham dinheiro na conta da corretora, em meio a operações de resgate ou operação. Para esses, no entanto, há mecanismo de ressarcimento de até R$ 70 mil por operação.
- Investidores que se sentirem lesados pela alteração artificial no preço das ações e títulos podem procurar a Justiça com ação criminal ou cível, para tentar buscar indenizações.
Clientes a salvo
- Embora as atividades das corretoras não sejam cobertas pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), investidores com aplicações em seu nome têm o patrimônio assegurado. Isso por que a corretora é apenas mediadora de procedimentos, não mantém em seu poder as ações, os títulos e os recursos financeiros. Os fundos e carteiras administrados pela Diferencial podem ser levados imediatamente para outra.
Mercado de capitais
Operações da Diferencial ficam suspensas após interdição pelo BC
Empresa com sede em Porto Alegre pode ter causado prejuízo a clientes por alterar preços de ações e títulos
Erik Farina
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