Setor que movimenta um terço da economia gaúcha, o agronegócio também direciona esforços para fazer o bem não apenas na época de Natal. São programas sociais com potencial para melhorar a vida nas comunidades.
Selecionamos algumas iniciativas, algumas recentes e outras consolidadas, como a desenvolvida na Centrais de Abastecimento do Estado (Ceasa). Em vez de descartar o excedente das mais de 600 mil toneladas de alimentos ao ano que iriam para o lixo, complementam a refeição de 60 mil pessoas ao mês.
Outro exemplo é o Assado do Bem, que repassou R$ 116 mil para o Instituto do Câncer Infantil e para a Santa Casa de Misericórdia em dois anos. O valor veio de leilões realizados durante a Expointer. Tem, ainda, o Programa Criança Dália, que já doou R$ 2 milhões para instituições que atendem a crianças de até 12 anos. Conheça essas histórias.
Toneladas de alimentos para todos os pratos
Depois de atravessar Porto Alegre em dois ônibus e esperar três horas, chegou a vez da dona Erena Bastos, 78 anos, encher sacolas de plástico com bergamotas, couves, tomates e bananas doados na Centrais de Abastecimento do Estado (Ceasa). Todas as quartas, quintas e sextas-feiras, pessoas como ela, em situação de vulnerabilidade, se enfileiram diante de uma sala com caixas de hortifrúti.
São, em geral, idosos, aposentados e desempregados. Quando a entrada é liberada, após distribuição de fichas, ganham uma porção de cada alimento e voltam para o fim da fila, repetindo o processo até esgotar as doações. Esse é um dos braços do Prato para Todos, programa social da Ceasa supervisionado por Rosandréa Vargas.
— Tudo o que estão levando para casa seria descartado por ter sobrado ou por estar abaixo da qualidade de venda. Esses legumes, frutas e verduras passam por triagem e, em vez de irem para o lixo, servem de refeição. O que não pode ser consumido é levado para fazendas terapêuticas onde servem de alimento para cavalos, porcos, galinhas e outros animais — detalha Dedé, como é carinhosamente chamada.
A gente não tem dinheiro para comprar essas coisas. Com a aposentadoria, dá para pagar só o básico. Isso é uma bênção. É fundamental para nossa alimentação.
ERENA BASTOS
Aposentada
Hortifruti complementa dieta semanal das famílias
A cada sete dias, dona Erena repete a peregrinação. Há quatro anos, sai da Pitinga, extremo-sul de Porto Alegre, rumo ao outro lado da cidade para garantir uma refeição mais saborosa a ela e ao marido, 59 anos, que está desempregado.
Por isso, ela não acha ruim pegar a primeira condução quando o sol ainda desperta no horizonte. Quanto antes chegar na Ceasa, maior será a possibilidade de ganhar porções extras.
— A gente não tem dinheiro para comprar essas coisas. Com a aposentadoria, dá para pagar só o básico. Isso é uma bênção. É fundamental para nossa alimentação — reconhece Erena.
É o que pensa também a dona Ilza Maria da Costa de Souza, 70 anos. Enquanto tiver disposição para enfrentar dois ônibus entre Viamão a Porto Alegre, não abrirá mão das doações. Conta que o salário da filha é insuficiente para comprar frutas e que, por isso, vai até o portão da Ceasa levá-las de graça para casa. De uns tempos para cá, a idade tem feito o percurso ficar mais penoso, mas nada que a faça desistir.
— Isso aqui dá uma ajuda tão grande para nós que tu nem imagina — diz.
No fim das contas, ganham todos, inclusive produtores e atacadistas. Se os produtos fossem descartados, o custo com contêineres de lixo, que é dividido entre eles, seria maior.
Além das 5 mil pessoas que recebem os alimentos no portão, 300 entidades como asilos, creches comunitárias, abrigos e fazendas terapêuticas captam semanalmente parte dos alimentos. Tem, ainda, o eixo de reinserção social. Pessoas em tratamento contra drogas e alcoolismo são convidadas a serem voluntárias, arrecadando, selecionando e distribuindo os alimentos. Elas são acompanhadas pela equipe do programa social em conjunto com as comunidades terapêuticas e, após avaliação, têm a possibilidade de reinserção no mercado de trabalho ou são encaminhadas para emprego.
Em 2004, o Prato para Todos recebeu chancela da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação no Brasil (FAO, na sigla em inglês). O programa foi reconhecido como exemplo de política pública na área de segurança alimentar. De janeiro a novembro deste ano, o programa recebeu 710 toneladas de hortifrúti excedente. Destes, 525 mil quilos foram destinados às entidades e pessoas em situação de vulnerabilidade. O que sobrou foi descartado ou para a alimentação de animais.
Crianças são prioridade para cooperativa
O Hospital São João Batista, de Nova Bréscia, no Vale do Taquari, recebeu do Programa Criança Dália, em julho, quatro equipamentos que estavam fazendo falta na ala pediátrica. A casa de saúde foi beneficiada com um oxímetro digital para medir oxigênio e frequência cardíaca de bebês, entre outros equipamentos para exames. Essa é a segunda vez que o hospital é contemplado pelo programa.
A casa de saúde se mantém graças a convênios com os municípios de Nova Bréscia, Coqueiro Baixo, Capitão e Relvado e pelo empenho da comunidade, que angaria recursos.
— Fizemos um ofício, mandamos para a Dália e ganhamos os equipamentos. Foi muito importante para o atendimento — conta Morgane de Conto, assistente administrativa do hospital.
A doação é uma das iniciativas do Programa Criança Dália, da cooperativa Dália Alimentos, que atende crianças de até 12 anos doando leite, material escolar e esportivo, equipamentos hospitalares, brinquedos, jogos didáticos entre outros itens.
Parcela de venda de leite é repassada para Santa Casa
Dois eventos são tradicionais no cronograma do programa: o Dia da Criança Dália, realizado em Encantado, e o Natal Criança Dália, em Arroio do Meio. No primeiro, são distribuídos kits escolares, lanches e presentes.
Na festa natalina, há ainda atrações para as famílias. O propósito é estimular a educação e a integração da comunidade, cuja participação chega a cerca de 4 mil pessoas por evento.
Um dos trabalhos de maior impacto é voltado ao Instituto do Câncer Infantil, de Porto Alegre. A instituição recebe, mensalmente, parcela do valor de cada caixa de leite vendida. Desde 2016, foram R$ 500 mil. Isso possibilitou estruturar a sala de acolhimento para as famílias dos pacientes.
— É muito importante para a cooperativa estar presente nas comunidades onde atua. É gratificante poder ajudar — diz o presidente do Conselho de Administração da Dália Alimentos, Gilberto Antônio Piccinini.
Entre churrasco e leilão de solidariedade
Os R$ 102 mil que a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre ganhou durante a Expointer deste ano serão aplicados em reforma e compra de equipamentos. O dinheiro é fruto do altruísmo da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac) e de entidades associadas, empresas, profissionais liberais e entidades ligadas ao agronegócio gaúcho que há dois anos promovem o Assado do Bem.
A Santa Casa precisa desse tipo de ação para conseguir se manter. E, também por isso, o trabalho deles foi muito importante. O agro tem nos ajudado.
RICARDO ENGLERT
Diretor-financeiro da Santa Casa
O projeto, gerado pelo setor jovem da Associação Brasileira de Angus (ABA), consiste em um leilão regado a churrasco durante a feira. Neste ano, foram comercializados lotes de coberturas de equinos crioulos e árabes, sêmen e embriões angus, brangus, hereford, braford, devon, charolês e wagyu, um casal de galinhas rosecomb, um mês de escola de equitação e um quadro. Em 2018, os R$ 14 mil arrecadados foram destinados ao Instituto do Câncer Infantil.
— Embora a ideia tenha surgido no núcleo jovem da angus, pensamos em envolver as demais raças para formar uma grande corrente do bem e beneficiar quem precisa. O projeto foi muito bem aceito. Cada um ajuda como pode — explica a gerente administrativa da ABA, Katiulci Santos.
O mutirão pela solidariedade teve custo reduzido, pois leiloeiros, jornalistas e outros profissionais atuaram de graça. E foi recebido pela casa de saúde com muito bom grado:
— A Santa Casa precisa desse tipo de ação para conseguir se manter. E, também por isso, o trabalho deles foi muito importante. O agro tem nos ajudado — elogia o diretor-financeiro da Santa Casa, Ricardo Englert, formada por nove hospitais.
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