Pesquisas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) indicam que a margem bruta unitária (receita subtraída do Custo Operacional Efetivo - COE, que considera todos os desembolsos) do produtor gaúcho quase dobrou - alta de 91% - quando comparado o primeiro trimestre deste ano ao mesmo período de 2016.
Segundo cálculos do Cepea/CNA, a margem bruta unitária das propriedades típicas do Rio Grande do Sul passou de R$ 0, 26 por litro de leite na média de janeiro a março/2016 para R$ 0,50 de litro de leite no primeiro trimestre de 2017. Essa pesquisa leva em consideração as propriedades típicas - que compreendem o modelo de produção que mais se repete dentro de uma determinada região - das bacias leiteiras sul-rio-grandenses de Cruz Alta, Palmeira das Missões, Pelotas e Três de Maio.
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Esse resultado positivo ao produtor está atrelado à alta no preço do leite bem mais intensa que a verificada para os custos de produção. Para o leite, os valores têm se sustentado em elevados patamares desde o ano passado, devido ao avanço do período de entressafra no sudeste e centro-oeste do Brasil.
No primeiro trimestre deste ano frente ao mesmo período de 2016, o preço do leite pago ao produtor subiu 25,7%. Quanto aos custos, o COE da atividade leiteira subiu apenas 2,3%. No geral, a alta dos custos foi contida pela desvalorização da ração (que tem como base especialmente o farelo de soja e o milho), insumo que mais onera a atividade.
E até quando esse cenário continuará favorável ao produtor? De acordo com perspectivas de agentes do setor, as cotações do leite cru estão em patamares elevados, o que dificulta o repasse desses reajustes da indústria para o consumidor, uma vez que a demanda por lácteos está enfraquecida, em um cenário de menor poder de compra do brasileiro. Desse modo, a valorização do leite cru pode atingir o teto em abril e apresentar estabilidade nos próximos meses.
Por outro lado, os custos de produção podem cair, já que a expectativa é de safra recorde de grãos.
Assim, mesmo com estabilidade da receita, as margens podem continuar positivas. Vale ressaltar que as cotações mais atrativas dos concentrados podem, por sua vez, incentivar a maior alimentação do rebanho e reduzir os efeitos da entressafra. Para o produtor gaúcho, que investe em pastagens de inverno neste período, acompanhar a movimentação do mercado de grãos e dimensionar estrategicamente sua produção são fatores importantes para aproveitar o momento positivo e assegurar margens.
Sergio De Zen é professor Dr. da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), e pesquisador responsável pela área de pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea)
Natália Salaro Grigol é mestre pelo Cena-Esalq/USP e pesquisadora da Equipe Leite do Cepea
cepea@usp.br